segunda-feira, 28 de novembro de 2011

AMOR DE FILHO

Aqui estou, outra vez, conforme você sempre quis, desde que eu nasci. Ou melhor, desde quando vocês dois, mamãe e papai, resolveram que deveriam me colocar no mundo. Lembra?
Pois bem. Os dias que antecederam a minha vinda foram difíceis, eu sei disso, e sentia, com você, que a qualquer momento eu iria nascer. Momento em que todos estavam, me esperando. Parecia até que a felicidade de toda família iria aumentar e  explodir para todos os lados. 
Nasci!  Tudo deixou de ser um sonho. A realidade veio chegando até à minha pessoa  e se apresentou. 
Horrível aquele momento. Só eu sei o que se passou. Se eu pudesse, continuaria dentro de você. Mas você queria que eu nascesse logo, porque as dores do parto eram terríveis e você não aguentava mais sofrê-las, não é? E pensar que eu era o culpado delas.
Levaram-me para que você me conhecesse. não sabiam que você já me conhecia, muito bem, desde quando sentiu a sua barriga crescer. A enfermeira sabia disso, mas quis que você me visse como eu havia nascido. E lá estavam, eu e. . . você. Que emoção!
Você olhou para mim e me achou lindo, mesmo enrugado e chorando. Alguém, naquele momento, lhe disse que eu havia nascido careca, desdentado e analfabeto. Lembra disso? Você sorriu e estando muito cansada,fechou os olhos, para descansar depois de dar um longo suspiro.
Me levaram para uma sala onde haviam muitos berços com outros bebês  que também haviam nascido naqueles dias. E, ali, eu permaneci até o papai aparecer para me ver.
Ele olhou para mim e, com lágrimas nos olhos, sorriu para mim e exclamou : "Meu filho!"
Os anos se passaram depois daquela data e, hoje, bastante crescido e mais velho, continuo  sentindo o grande amor que prometi a você, desde quando estava dentro da sua barriga, ouvindo a sua voz, falando baixinho e passando as suas mãos pelo seu ventre. Não sei porque sinto que esse amor cresceu ainda mais. Parece que é infinito! É mesmo!
O sorriso que você me deu na maternidade me fez sentir que eu seria amado eternamente. Isso, eu percebo até hoje. Todos que me conhecem dizem que você e eu formamos um par maravilhoso e que deveria ser imitado por muita gente. Será?. Tudo porque, hoje em dia, o amor está se afastando das pessoas, não é?  Porém para nos dois isso é impossível porque nos amamos de verdade. E, muito!
Dizem que as mães têm um dia só para elas no calendário universal. Penso que todos os dias devem ser das mães e também das avós que um dia também foram mães.
Mesmo estando vivendo em outra cidade, eu prometi a você  que viria visitá-la neste dia e, se for necessário e possível, abraçá-la e beijá-la nem que seja em sonhos.
E aqui estou,diante de você, querida. Vejo o seu rosto e nele aquele sorriso emocionado que me deu quando nasci. Eu não consigo esquecer.
Dias antes, você e o papai conversavam bastante sobre como seria a minha vida. Ou a vida dos três. Tudo estava programado e o meu quarto estava perfeito para me receber. Lembra disso?
E foi para lá que eu fui levado. Confesso que era o quarto que eu sempre sonhara, dentro da sua barriga, e que um dia teria somente para mim. Você e o papai cumpriram e me deram o quarto sonhado.
Os anos se passaram e eles me fizeram compreender qual é, realmente, o verdadeiro valor de uma mãe para um filho. Mesmo que a separação tenha decorrido até como consequência do nascimento desse filho. 
Tudo isso eu costumo me lembrar, querida mamãe. E faço questão de recordar, agora, aqui, diante de você, se bem que, mesmo me ouvindo, você insiste em nada me dizer, mesmo que eu fique implorando, ajoelhado, para ouvir a sua voz. 
Caio em soluços e choro bastante.
Sinto a mão do papai me pedindo para levantar porque em poucos instantes os portões do cemitério serão fechados.
Olho novamente para o seu retrato naquele túmulo e prometo.
"Ano que vêm eu volto!"  
Não é mesmo?

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