segunda-feira, 30 de setembro de 2013

DUAS ALMAS.

                                                    Aldo Zottarelli Júnior

Eram duas almas que nasceram e viveram juntas.
- Como é bom - disse uma delas - que estamos vendo esse mundo todo se mexendo ou balançando de um lado para outro.
- É verdade! Tenho observado que já fomos bonitas e agora a cor dos nossos corpos está ficando muito amarelo e o verde da nossa saúde está se acabando.
- É uma pena mas é a regra geral da vida. Fazer o quê?
Conversando bastante, as duas almas contavam o que observaram naquele local onde elas surgiram e que proporcionava a cada uma delas uma experiência de vida.
- Veja você, companheira de todas as horas, ontem, pela manhã, nos vimos o casal que ficava sempre ao nosso lado, mudar totalmente de cor e bem secos e enrugados caírem sem ninguém tentar salva-los.
- Olha os dois deitados no chão. É possível que, no final da vida deles, o crematório seja a sua última morada ou eles sejam esquecidos debaixo da terra.
Naquele momento, um vento forte bateu nas faces das duas amigas.
- Cuidado querida que esse tipo de vento pode nos derrubar.
- E do chão nós não passamos, não é?
- Ainda mais agora que estamos idosos e sentindo a cada ruga que aparece em nosso corpo a mudança do verde-saúde para o amarelo-doença.
- Ou para o marrom, ou champagne, ou vermelho. . .
- Seria ótimo se fosse vermelho porque é bom lembrarmos que os pigmentos vermelhos, chamados de antocianinasque podem trazer uma proteção contra a radiação solar intensa, garantindo o fenômeno da fotosíntese que geram energia. 
- É por isso que algumas árvores fiquem com as suas folhas avermelhadas?
- Sim.
- Você se lembra quando as pessoas vinham em nossa direção e se sentavam à nossa sombra, sem perceberem que nós tínhamos vida e sentíamos tudo o que acontecia.
- Quando eram casais de namorados, os  beijos apaixonados e as declarações de amor eram constantes. Lembra? 
- Era mesmo. Agora, que estamos amarelecidas e com a contagem caminhando para o final, não  conseguimos mais ouvir ou ver os momentos de paixão entre duas pessoas.
- Infelizmente outra rajada de vento frio se aproxima e o nosso amarelo vai virar uma cor praticamente sem vida e os nossos corpos vão ficar rígidos e facilmente quebráveis.
- É uma pena que isso venha a acontecer. Aliás está acontecendo. Não podemos nos esquecer que pertencemos a uma família famosa denominada de álam. . .
Fez-se silêncio.
- Querida! Onde você está?
Olhando em direção ao chão, a amiga viu que as forças da sua companheira haviam terminado e ela não conseguiu se segurar ou se equilibrar no galho onde estavam e caiu mansamente, repousando discretamente no chão. Silenciosamente, morta!
Em seguida e chorando, a outra flor de álamo caiu de tristeza e juntou-se com a  companheira de sempre. 
Mortas, as duas folhas ficaram abraçadas como duas almas amantes até que um vento mais forte desmanchou aquela união enviando cada uma delas para lugares diferentes.
Mais tarde, uma cremação ao pé da árvore em que viveram foi feita por um desconhecido. Elas se foram para sempre com a fumaça daquela queimada. 
Era o outono que havia chegado e, logo depois, viria o terrível inverno.

                                 O autor é educador, escritor e músico.
                                 Agendar conferencias e palestras no 
                                 e mail: aldozottarellijunior@gmail.com
                               

domingo, 29 de setembro de 2013

QUE SE CALE PARA SEMPRE

                                         Aldo Zottarelli Júnior

Não é por a acaso que, ao se reunir com os amigos, em uma uma mesa de bar, o cidadão encontra as  condições necessárias para comentar sobre a vida de outros, sem qualquer esforço. "Isso é muito feio", diria o meu querido e saudoso pai. Mas acontece!
Quando a reunião "barlesca"( não sei se existe esta expressão) está entre os queridos membros de uma mesma família, a coisa pode piorar muito porque acabam sendo citadas e envolvidas as seguinte pessoas: tios, tias, primos, primas, irmãos, avós, invejas, etc.
- Você quer o quê, - diria o satânico Hipócrates ( o tal filosofo dos médicos) - se a própria bíblia acusa Caim de matar o seu irmão Abel, sem especificar quais foram as posteriores reações dos seus pais Adão e Eva,  com o tenebroso e burlesco acontecimento. 
Os mais estudiosos bíblicos afirmam que Eva dava mais atenção para o seu filho Abel do que para o outro filho Caim. Este não tinha o bar da esquina para afogar suas mágoas invejosas e foi logo 
escolhendo a pior saída ou apelação: mandar o seu irmão para o purgatório. 
Nota: Naqueles dias não se comentava a existência do inferno mas apenas do Satanas, o famoso anjo mau incorporado numa serpente simpática, traiçoeira e enrolada pra caramba, com uma maçã na boca presa pelos seus exclusivos dois branquíssimos dentes.
Mas vamos continuar no bar da esquina.
- O Carlão se separou da mulher- disse um de seus frequentadores.
- O  Carlão? Porquê?
- Alguém falou pra ele que ela costumava se encontrar com um cara no Motel "Feliz da Vida", lá na estrada de. . .
- Mentira! - interrompeu outro  companheiro de mesa. Esse motel é de péssima qualidade, Eu não entro nele quem me matem.
- Pode ser.  Só que ela entrou. E tem mais, depois de morto você não manda nada. Só recebe ordens. Tá? - disse o  Inglês, apelido de um dos que conversavam naquela mesa e que usa um par de óculos "Ray Ban", verde escuro. Pô, parece um ceguinho de luxo.
- Vamos falar do Bigorrilho? - sugeriu o "Regio Calábria", apelido de um neto de italiano e filho de uma saudosa e querida professora de Grupo Escolar, também companheiro naquela mesa.
- Ele está na Santa Casa. - respondeu o Armando.
- O que foi que aconteceu com ele? - perguntou o Carlão.
Armando, sorrindo, respondeu.
- Ele foi lá para fazer uma entrega de toalhas para as voluntárias daquele hospital.
De repente, surge um comentário: 
- Vocês estão sabendo que o Galdio e o Mirlesco abriram uma empresa para  colocação e consertos de telhados? E mais. Não querem contratar funcionários, para evitar despesas supérfluas.   Eles irão fazer, pessoalmente, os trabalhos da empresa.
- Se ontem eles abriram essa tal empresa, irão fechar no primeiro empreendimento.
- Porquê?
- Ora se o Galdio pesa 140 quilos e o Mirlesco tem pesagem igual, qual o telhado que vai aguentar os dois juntos trocando as respectivas telhas?
Foi uma risada total daqueles que se encontravam bicando uma cervejinha, naquela mesa.
Sem ter o que fazer e sem inspiração, acabei contando este fato abrangendo muitas coisas onde poucos devem ter percebido essa minha intenção.
Vamos lá. Falei sobre os seguintes assuntos:  mesa de bar, fofocas, mentiras, família, pai, tios, tias, primos, primas, avós, Adão, Eva, Caim, Abel, Satanás, purgatório, Hipócrates, traição de casal, Bigorrilho, Galdcio, Mirlesco, Regio Calábria, Santa Casa, voluntariado, etc.
Impressionante como funciona a nossa mente quando não estamos fazendo nada importante. É aqui que mora o perigo.
Quem duvida da capacidade mental do próximo, mesmo que ela seja infinitamente péssima, como a minha neste momento, que apareça  e diga agora ou, então, que se cale para sempre.Tenho dito e "re-dito."

O autor é educador, escritor e músico.
e mail: aldozottarellijunior@gmail.com

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

ESPIONAGEM?

                                                                                Aldo Zottarelli Junior 

Vamos imaginar que a estória que eu vou contar seja possível ou verdadeira.
Palácio do Alvorada, em Brasília. Uma quarta feira de setembro. 9:30hs da manhã.
- O ex presidente já entrou - afirnou o guarda da guarita de segurança da entrada do Palácio do Alvorada.
Poucos minutos depois, no escritório da residência oficial da presidente da república, estão sentados a dita cuja, o ex-presidente e o consultor do marketing que tem nome de santa: Santana.
O barbudinho de voz rouca toma a palavra.
- Dilma, você não deve se encontrar com o presidente americano em Washington,nem que ele tussa. Nada disso! Precisamos aproveitar a oportunidade que essa espionagem de araque nos dá, para sairmos na frente na campanha eleitoral do ano que vem.
- Mas como? - perguntou o marqueteiro.
- Eu explico. Santana, você não acha que esse caso de espionagem já tomou conta dos noticiários nacional e internacional e, assim, podemos tirar, gratuitamente, alguma coisa de bom para nós?
- Podemos fazer um big marketing com essa tal espionagem. Já está aqui na minha cabeça.
- Vocês dois sabem - disse o barbudinho - que todos governos costumam fazer da espionagem um toque para a sua segurança. Nós também temos os nossos informantes oficiais e extra-oficiais em países que nos interessam, besbilhotando sob qualquer ponto de vista- afirmou a presidente.
Santana interveio:
- É verdade! Eu li no livro de John Perkins sobre as confissões de um assassino econômico e entendi o verdadeiro significado desses agentes extra-oficias que prestam serviços para às principais empresas norte-americanas, fornecendo informações sigilosas de interesse da Casa Branca, com ou sem a internet.
- Esse tipo de informação diz respeito, provavelmente, sobre a economia e até aos atos específicos do governo espionado. Não é? - perguntou o barbudinho
Dilma, baforando o seu charuto cubano que acabou de acender, olhou para os dois companheiros e afirmou:
- Foi por isso que eu não quis convocar o nosso Ministro do Exterior para essa reunião. Acho que esse assunto pode sair da esfera da diplomacia governamental e ganhar espaços fundamentais e práticos para as eleições do próximo ano.
- Eu também acho! - afirmou o ex-presidente e completou - você não vai visitar o Obama, em Washington, mas pode, muito bem, na semana seguinte, abrir a Assembleia Geral da ONU  mandarndo um recado para o mundo e, com isso, trazer muitas nações para o nosso lado. Tudo irá depender do seu discurso.
Houve um pequeno momento de silêncio. Santana quebrou esse hiato e se ofereceu:
- Se a senhora quiser eu posso fazer o rascunho. Não podemos nos esquecer que a maioria dos brasileiros, especialmente os das classes C e D, que elegeram o partido de vocês para dirigir o Brasil, não admiram os Estados Unidos, porque são pobres e, geralmente, pobre não gosta de gente rica e esnobe, como é o povo dos Estados Unidos.  Daí, qualquer coisa que possa servir de crítica aos americanos em defesa dos interesses do Brasil se transformará em votos garantidos nas próximas eleições. A palavra chave que a senhora presidente deverá pronunciar na ONU é soberania nacional. A mesma soberania que todos os países possuem e defendem e não querem ser espionados mas, espiam. Não é?
O ex-presidente abriu um sorriso e disse:
- É isso mesmo, Santana. Vamos sair na frente. Vamos depender desse discurso. E a voz da Dilma é agradável e prende atenção de quem a ouve.  O mundo irá reprovar a conduta do Obama e de seus compatriotas, enquanto nós ganharemos a admiração dos eleitores brasileiros que sentirão,na pele, as ofensas à soberania do Brasil.
Em seguida, os três combinaram aplicar uma estratégia sobre a espionagem na internet,  visando ganhar todos os frutos que brotarem no seio da população brasileira.
Uma dessas medidas será espalhar mentiras porque o brasileiro gosta de ouvir e acreditar em mentiras. A outra é esquecer a lei natural de que a espionagem é praticada por todos os países porque precisam dela para a segurança econômica e social além do desenvolvimento nacional de cada um. Só não sabe quem não quer saber. Ou fingir que não sabe. James Bond não é o único espião do mundo. Todos podemos ser. É questão de oportunidade, ainda mais com a existência da Internet e outros canais sociais semelhantes.
Há o outro lado da moeda da espionagem. Será que algo inesperado possa acontecer?
Ou seja, o Brasil, diante dessa tal espionagem ou picaretagem dos Estados Unidos, resolva se  transformar num país comunista ofendido e inimigo dos americanos, contando com o apoio da Venezuela, Bolivia, Argentina, Cuba e Rússia, abrindo um conflito armado contra as tropas do Tio Sam. Cuba enviaria soldados da sua ilha para lutarem pela nossa pátria, como enviaram os seus médicos para defenderem a saúde dos brasileiros. Será?
Penso que temos tudo para sermos derrotados e perdermos esse conflito, do primeiro ao quinto! 
Mas, e se o Brasil ganhar?
Ainda bem que essas linhas não passaram de uma estória muito bestial e inventada por um maluco quem não tinha o que fazer numa madrugada de uma quarta feira, no início de uma primavera, porque o sono não veio. 
Daí. . . bem, deixa pra lá!

                                                       O autor é educador,escritor e músico.
                                                       e mail: aldozottarellijunior@gmail.com

terça-feira, 10 de setembro de 2013

PROBLEMAS DE LINGUAGEM

                                                        Aldo Zottarelli Júnior

- Obrigado, Claudete.
- Não é Claudete, é Odete.
- E daí? Ambas tem o "dete" em seus nomes, não têm?
- Têm
- Daí, estamos em casa, não estamos?
- Casa de quem?
- Da dete, né?
Ele sempre foi assim, diziam os amigos, e a confusão de nomes e de palavras era a coisa mais simples que acontecia com ele.
Um dia, ele estava estudando a história antiga e viu o desenho do Colosso de Rodes, uma das maravilhas do mundo e se entusiasmou. Procurou o professor do colégio para contar como ele havia ficado impressionado com aquele monumento grego.
- Professor. Hoje eu fiquei espantado com o monte de ossos daquele rodão que é um monumento da Persia. 
- O que você está dizendo?
- Aquele monumento gigante que é considerado uma das maravilhas do mundo antigo.
O professor ficou pensando no que o seu aluno lhe disse. De repente veio o estalo.
- Será que você não quis dizer o Colosso de Rodes, uma das ilhas da Grécia? 
- Isso, isso, isso. Colosso de Rodas
- Rodes, meu caro. A grande estátua, com 30 metros de altura, representava Helio, Deus do Sol da Mitologia Grega e foi construído entre os anos 290 e 280, antes de Cristo.
- Isso, isso, isso. Antes de Cristo já é uma boa, não é professor?
Muitos exemplos eu poderia citar das bobagens e das palavras trocadas que o Deutônio fazia. Alem disso, ele era muito teimoso com as suas tiradas erradas e a sua teimosia era igual a de um jumento com todo o seu conteúdo, grau e etc.
Quando ele trocou "forte" por "porte" foi demais. Ele afirmou que o forte de armas seria "um crime de alta abstinência, previsto no código civil universal, dentro da conjuntura internacional. Deveria ser discutida na ONU, em Nova Jersey." Olha aí a confusão. Trocou até a cidade sede das Organização das Nações Unidas:  Nova York por Nova Jersey.
Continuando, ele afirmava:  "nenhum portudo teria a força para enfrentar tal diabrura". Deu pra entender? Então me explique o que ele quis dizer com tais afirmações? 
Adivinhar o que aquele cara dizia era uma forma de passatempo construtivo para caramba, sendo complicado demais para se tentar a adivinhação.
Uma vez, ele ficou com tanta raiva de um amigo e não perdoou o coitado.
- Sei que você anda falando de mim - disse ele - e se continuar eu vou lhe dar um burro. Tá?
- Por que um burro? Eu não quero burro algum.
- Vou dar, assim mesmo! E na sua cara!
- Um burro na minha cara? Não entendi.
Ele queria dizer um murro, soco ou algo parecido. Seria engraçado ele carregar um burro e joga-lo na cara do amigo. Não seria? Vamos imaginar a cena. Impressionante!!
Esse tipo de pessoa é bastante comum num país onde o idioma provoca muitas condições para que as palavras  sejam trocadas, ou que tenham significados diferentes, mas  com a mesma ortografia e com sons parecidos 
Dizem que para falar besteira, bastar abrir a boca. Nem é preciso ser um Deutônio,para tanto.
E não é que isso é a mais pura verdade.
- Verdade, verdadeira ou mentira, mentirosa? - Deutônio poderia perguntar.
Pois é. Aí está. Basta abrir a boca ou escrever alguma coisa e lá vem besteira.
Já perceberam que acostumamos a não nos acostumarmos com a nossa língua portuguesa porque ela é demais complicada. Parece que os outros idiomas são mais fáceis de serem compreendidos e, com isso, tudo fica mais compreensivo na comunicação pessoal entre os que falam ou entendem os idiomas dos gringos. 
Conheço bem as confusões que aparecem quando as palavras sinônimas são utlizadas em nossa linguagem. Na maioria das vezes, tais confusões são consideradas "homéricas"  (onde eu fui buscar isso? Homéricas? ) e somente são explicáveis por aqueles que amam e estudam a nossa língua portuguesa. Não é?
Há palavras que são escritas com "c" ou com dois "s" deixando muita gente atrapalhada e  quem as ouve, disfarça com um sorriso maroto. Pura maldade!
Entrei numa loja do Shopping e ouço uma vendedora loira,bem maquiada e linda, perguntar para outra vendedora, também muito bonita, com uma voz leve, solta e feminina, se a palavra "passeio" era com "c" ou com dois "s".
Confesso que senti uma enorme vontade de dar um sorriso amarelo. Deixei pra lá e saí daquele local indagando a mim mesmo porque é que o nosso idioma oferece tantas dúvidas, como a daquela vendedora loira. Falta de escola? Talvez. Falta de leitura? Talvez. Falta de qualquer coisa? Com certeza! Absoluta!
Lembrei-me do Deutônio quando, num velório, ele afirmou para a viúva, diante do caixão fúnebre de seu marido, que "infelizmente, estava morrendo gente que nunca morreu!"
A mulher, olhando para ele, aumentou o seu pranto de dor, gritando:
- Tira esse homem daqui.
Foi o coroamento daquele imbecil ou ignorante . Agora eu pergunto: ele tem razão, ou não?
A vida nos prepara muitas surpresas e nos mostra que há inúmeros Deutônios por ai...
Alguém duvida?
                                               O autor é educador,escritor e músico
                                               e mail: aldozottarellijunior@gmail.com

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

FUGAS

                                                                                                         Aldo Zottarelli Junior
"Não sei porque eu insisto tanto em te querer"
Aí está a primeira frase da letra de uma música que todo mundo conhece e concorda com o autor. Quem foi que até hoje não insistiu em alguma coisa sem saber o porque. Não é mesmo? Coisas da vida diriam os incautos. Nada disso. É teimosia mesmo. Eu vou mais além: ao perceber que não vai dar certo, o gaiato se arrancas e parte para outro caso. É a famosa fuga construtiva.
O que é isso? Fuga construtiva? Existe outro tipo de fuga?
Explico. A fuga sempre existiu desde o momento em que Deus construiu essa coisa complicada que ele denominou de "mundo". Antes era Éden. Lembram-se?
A primeira fuga teve um formato destrutivo porque nasceu de uma traição. Os empregados, Adão e Eva, enganaram o patrão, Deus, e foram espinafrados para a rua na busca de um outro mundo. Para o Criador foi uma punição e para os punidos foi a grande oportunidade de fuga daquele paraíso, que de paraíso não tinha nada. Parece que era o que os dois retirantes falavam. Para quem? Não sei.
Tudo aconteceu porque eles teriam que trabalhar oito horas/dia, sem direito a horas extras e com o suor do rosto do Adão. E o da Eva?  Bem, esta deveria ficar em casa como doméstica, cozinhando, limpando os aposentos do casal, costurando ( O quê?  Eles andavam nus!) e com os afazeres de mãe para cuidar de dois rebentos bíblicos.  Pois é. Deu no que deu. Um deles fez presunto do outro.
Citei duas espécies de fuga - a construtiva e a destrutiva.
Ou seja, para existir uma fuga há a necessidade de um motivo qualquer, justo ou não, para o seu surgimento. Assim, entre a fuga construtiva e a destrutiva há inúmeras outras.
A fuga de um condenado do local onde estava preso é  considerada construtiva porque o fugitivo está cogitando construir um novo futuro ou uma nova vida fora da cela. Já, para a segurança da prisão a fuga foi destrutiva porque mostrou falha no processo prisional adotado.
Desde os nossos primeiros passos vivemos sempre fugindo de alguma coisa ou buscando, através de fugas, conquistar outras.
Exemplos de fuga destrutiva, ou seja aquela que destrói alguém: fugir da escola, fugir do inimigo, fugir da "porrada"de um desafiante, fugir dos pais, fugir da família, do namorado, do marido, do amante, do cachorro raivoso, do cocô das pombinhas na cabeça, das aranhas, cobras, jacarés, tubarão, patrão, polícia, e de todos que podem complicar qualquer um. O melhor é destruir, imediatamente, a relação inoportuna e causadora da vontade de fugir e partir para qualquer lugar para tentar a conquista de coisas diferentes. Mas, há fugas impossíveis como a da. . . morte!
Não conheço ninguém que tenha conseguido fugir da morte. Quem conhece, diga agora ou cale-se para sempre, Claro, morto não fala!. Eis aqui uma fuga difícil de ser narrada ou explicada porque ela simplesmente não existe. Ou existe? Vou repetir. Quem souber levante a mão e saia do caixão.
Fugas construtivas aparecem quando alguém se beneficia de algo que era impossível de ser alcançado, como receber de um devedor uma dívida considerada perdida. Repito: extremamente per-di-da!
Há outras fugas construtivas no caminhar da vida de qualquer pessoa.
Viver sozinho pode proporcionar uma espécie de fuga construtiva, se o ermitão continuar procurando a sua felicidade… sem ninguém para encher o saco. Lembram-se de Confúcio,  que dizia "antes só do que mal acompanhado". Acho que foi ele que falou  isso. Não foi, não? Então estou  confuso.
Molhar o jardim da casa e conversar com as flores é uma espécie de fuga construtiva, principalmente, para as senhoras idosas ou não, sem usar o suor do rosto. Isso é para o Adão e não para a Eva, dizia a Bíblia.
Ouvir uma emissora de rádio para esquecer dos problemas do cotidiano e ficar por dentro daquilo que estava por fora(?) O que é isso? Vou contar pra todo mundo o que a rádio '"falou".
Ver novelas na TV também é uma espécie de fuga construtiva marcante, porque os problemas que aparecem pertencem aos personagens e não para quem os assiste.
Pode se incluir nessa espécie de fuga as notícias policiais, políticas e outras que não causam exercícios fundamentais na mente para compreende-las. Caso contrário a fuga pode adquirir o roupagem de destrutiva. E como!
Eis que, se não quando, aparece o compartilhamento da fuga construtiva com a fuga destrutiva.
Exemplo: numa mesa de refeição, pais e filhos, cada um está com o seu celular ligado e todos desligados entre si. Não se falam e nem se olham. Ficam atentos na telinha dos aparelhos que, infelizmente, nasceram muitos anos depois que Graham Bell inventou o telefone. A busca de não querer se comprometer com algum problema - fuga construtiva - desperta também a destruição da comunicação entre eles - fuga destrutiva. Somente se comunicam através do celular. Êta família moderna e mal educada e como dizem os baianos . . . porreta!
Há inúmeros outros exemplos de fugas, porém a principal e de domínio de qualquer cidadão é a fuga da responsabilidade, que é a que eu irei fazer agora.
"Não sei porque eu insisto tanto em. . ." Bem, empreendi uma fuga. Tchau! Fui!

O autor é educador, escritor e músico
e mail: aldozottarellijunior@gmail.com

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

UMA DECEPÇÃO SURPREENDENTE.

                                                                         Aldo Zottarelli Júnior
Eu vi com estes meus olhos que a terra irá um dia comer. . .
Engraçado! Entre nós, os mortais atuais, expressões como esta são comuns, principalmente quando nos encontramos batendo papo com os amigos.
Entretanto, confesso ser verdade o que irei contar a partir de agora.
Para tudo, neste Brasil varonil, é caso de piada ou de graça.Até em velório, notamos e condenamos a falta de respeito de grupinhos de pessoas dando risadas ao ouvirem algum caso engraçado.  E o morto, ali oh, quietinho e sério dentro do caixão não podendo se manifestar de jeito algum. Pois é.
Vamos aos fatos.
Durante o período em que aconteceu a única revolução nacional neste país, havia, em Cubatão, um major do exército, direitista até demais e tinha como o seu maior ódio o tal do regime socialista e comunista que os esquerdistas brasileiros queriam implantar por aqui, sendo derrotados pelos militares, com a ajuda do povo brasileiro. A sua grande alegria, causando momentos de felicidade era quando ele via e falava com a sua filha, linda garota com dezesseis anos e atraia a todos pela sua formosura, etc. Daí o grande ciúme que ele tinha da sua filha.
Um dia, esse menina disse ao pai que estava com um caso com um colega de classe.
- Como caso?- perguntou o major.
- Namoreco, papai - respodeu Berenice. Berê para os íntimos.
- Como namoreco? Você nunca irá ter algum caso com essa denominação. Está ouvindo bem?
- Sim papai. Não seria um namoreco. Seria um namoro.
O major ficou com  o rosto vermelho e, irritado, intimou à sua filha que trouxesse esse tal namorado que ele gostaria de conhecer pessoalmente e ter um papo sério com ele.
- Mas papai, ponderou a Berê. O senhor é muito bravo e tenho medo de apresentar o meu namorado para o senhor. Nem imagino qual seria sua reação.
- Fique tranquila, minha filha. Traga o bicho para eu conhecê-lo.
E ficou combinado, entre pai e filha, que o dito cujo namorado da dita cuja seria apresentada na noite da próxima sexta feira.
A expectativa era grande de parte do casal de namorsados e do pai militar bravo e de peito estufado.
Na data e hora combinada, Berê chegou no terraço da casa onde morava e a sua mãe veio receber e conhecer o namorado da filha.
- Como é o seu nome?- perguntou dona Esmeralda, a mãe.
- Jus...Jus...Justino - respondeu o garoto um pouco nervoso.
- Bonito nome. Fique tranquilo que o meu marido, apesar de ser militar bravo, é uma pessoa carinhosa e caridosa.
"O que será que essa mulher quis dizer com caridosa?"pensou Justino.
Berê segurou nas mãos de Justino e entraram na sala da sua casa. Lá se encontrava o "homem". Amigo ou inimigo?  Eis a questão!
- Papai, este é  Justino, o meu namorado.
Somente o Major poderia sentir a raiva ao ouvir aquelas palavras da sua filha. Tentou ser educado e disse ao Justino.
- Por favor. Sente-se e vamos conversar. Você, filha, fique no terraço com a sua mãe.
Berê obedeceu e deu uma piscada de olhos para o pai, como se estivesse pedindo calma e tranquilidade com o seu querido Justino.
Depois de olhar atentamente e muito sério para o jovem, afirmou:
- Eu sou um militar da direita e gosto das coisas certas e deploro a mentira e a falsidade que são as armas desses comunistas que quiseram tomar conta da pátria amada e nós não deixamos.
- Entendo, senhor. - afirmou Justino.
- Quantos anos você tem - perguntou o major.
- Dezoito anos.
- Jovem demais, mas vamos em frente.
- Você estuda com a Berê?
- Sim major. E trabalho também.
- Onde?
- Nas Casas Bahia.
O Major ficou em silêncio por alguns instantes e voltou a perguntar:
- Você trabalha na administração das Casas Bahia?
- Não! Sou empacotador da loja de Cubatão.
" Meu Deus! Onde a minha filha foi arrumar um cara como esse?
Empacotador das Casas Bahia?"
- Ok. Tudo bem. Você deve ganhar bem, não é? - perguntou o Pai um pouco aflito.
- Ganho bem, sim senhor. Seicentos reais mensais.
- O quê? Seicentos reais por mes? - perguntou o militar já se levantando da cadeira onde estava sentado.
O garoto se assustou com a conduta do pai da Berê e se levantou também.
- Olha aqui seu moleque - disse o Major bastante irritado - o seu salário mensal não paga as despesas da minha filha com papel higiênico, ouviu?
Justino balançou a cabeça como se concordasse com as aflrmações do major e, sem dizer nada, se retirou da sala.
Ao passar pelo terraço, Berê veio em sua difeção tentando sorrir e perguntar como foi a conversa dele com  o seu pai.
Justino, apressado, aproximou-se da sua namorada e exclamou em voz alta:
- Tudo terminado entre nós -  e completou - Sáia pra lá sua cagona.
Um decepção surpreendente

O autor é educador,esritor e músico.
e mail : aldozottarellijunior@gmail.com