terça-feira, 13 de março de 2012

AMIZADE PARA SEMPRE. (escolher)

Quarenta Anos
Há mais de quarenta anos que não se viam.
O relógio, no seu pulso, marcava oito horas!
Ali estava o doutor Mauro, médico famoso daquela cidade e o seu grande amigo de infância o Arsênio.
Não se tratava de mais uma das consultas diárias, mas da visita do amigo de que não tinha notícias e  só ao ve-lo, o seu coração bateu mais forte.
Da conversa souberam extrair momentos vividos desde crianças e, principalmente, da época em que estudaram juntos no Instituto de Educação. Foi, nesta escola, que Arsênio conheceu a Lupi, filha de um casal recém chegado da Espanha. O pai, um famosos consultor técnico, veio para trabalhar  numa famosa empresa multinacional instalada naquela cidade.
A bela Lupi
Lupi era simplesmente maravilhosa com os seus dezesseis anos. Pele morena, com os seus  cabelos negros e compridos sobre um rosto claro e lindo, destacando os olhos verdes, como se fosse uma estrela de cinema e tudo isso num corpo de manequim. O seu sorriso era contagiante. Cada vez que aqueles lábios carnudos e vermelhos sorriam, era motivo para qualquer garoto adolescente ficar paralisado diante de tanta beleza.
Lupi, Arsênio e Mauro formavam um trio de amigos de fazer inveja aos demais companheiros escolares.
Num determinado momento, surgiu o amor entre a espanholinha e o portuguesinho Arsênio. Este era filho do seu Antonio e de dona Fernanda, donos de um supermercado da cidade.
O namoro entre Lupi e Arsênio cresceu e acabou em casamento. Não tiveram filhos porque Lupi não conseguia  engravidar. Por muito anos permaneceram juntos e se amando como poucos casais fazem.
Os anos foram passando e o amor entre Arsênio e Lupi aumentava cada vez mais. Um não conseguia viver sem ter o outro ao lado. Impressionante!
Mauro seguiu estudando e formou-se médico.
Consultório do dr.Mauro
Há quarenta anos ele clinicava numa cidade vizinha onde se destacou como um dos melhores médicos especializados em geriatria.
E assim os atos e fatos foram se passando para todos até que um dia, ao chegar ao seu consultório, Mauro encontrou aquele homem  apresentando  um rosto cansado, com pequenas rugas, cabelos brancos  e que lhe parecia ser alguém conhecido.
"Dr Mauro?"perguntou o homem.
"Sim. O senhor é . . ."
"Arsênio!"
Mauro não acreditou. O seu grande e inesquecível amigo de infância ali estava, depois de tantos anos sem um ver o outro. Deu um abraço em Arsênio e o convidou para entrar e sentar no seu gabinete de trabalho.
Do papo que nasceu naquela manhã entre Arsênio e Mauro, as lembranças do passado vieram a tona e depois de rirem bastante veio a pergunta inevitável:
"E Lupi, como está? Continua bonita como sempre?"
Arsênio, engoliu seco e respondeu:
"Você não sabe meu querido Mauro? O amor da minha vida morreu há dez anos num acidente de carro."
Mauro ficou em silêncio por alguns instantes. Quis saber do acidente, mas Arsênio não quis falar a respeito porque era ele quem estava dirigindo o carro no momento do acidente.
"Você falou que foi há dez anos? Você se lembra do dia?", perguntou Mauro.
"Sim, eu me lembro", respondeu Arsênio e completou: "Hoje está fazendo 10 anos que ela morreu."
Claro que a conversa entre os dois amigos foi longa porque em cada fato vivido no passado e narrado por um deles, aumentava ainda mais a tensão da alegria de terem vividos juntos a maior e melhor época de suas vidas. Sempre juntos. Como irmãos. Mauro, Artsênio e Lupi.
"E você Arsênio? Conta pra nós, digo pra mim como foi esses quarenta anos que passaram?", perguntou Arsênio.
Mauro olhou para o amigo e lhe contou a grande surpresa que ele jamais esperava contar.
"Arsênio, nós três fomos muito unidos e dessa união despertou em mim, também, um amor pela Lupi. Confesso a você que ela sempre foi o amor da minha vida. Mas como ela era a sua namorada e depois veio a ser a sua mulher, eu me mantive calado com esse sentimento dentro de mim. Somente para mim!"
Arsênio olhou diretamente para os olhos do Mauro e lhe disse:
Amizade acima de tudo
"Eu e a Lupi sabíamos que você gostava dela. Mas isso não impedia que a nossa amizade estivesse acima de tudo."
"Verdade?" perguntou Mauro. Em seguida, abraçou o amigo e ficaram assim por alguns minutos.
De repente o Arsênio se afastou de Mauro e lhe confidenciou que um dia, em algum lugar os três estariam unidos novamente. Mauro disse que gostaria que isso viesse a acontecer se bem que Lupi já havia falecido. Mesmo assim, confirmou que estaria esperando esse encontro acontecer.
Arsênio pediu desculpas ao Mauro e disse que precisava se retirar. E isso realmente aconteceu.
Mauro ficou só em sua sala lembrando da Lupi  a espanholinha que ele tanto amou.
Pegou o seu bloco de receitas e escreveu: Lupi meu grande amor;  Arsênio meu melhor amigo. Que bom seria se um dia pudessemos nos encontrar.
Sem saber o porque, o seu coração começou a bater mais forte. Disparou! Uma tontura nunca antes vivida lhe apareceu. Tentou chamara sua secretária. A voz não saiu. Mesmo sentado, procurando um apoio porque o seu corpo estava sem qualquer comando, desfaleceu e caiu ao chão. O barulho da queda foi alto. E no chão ele permaneceu desfalecido e. . . morto!
O relógio do consultório marcava 8 horas da manhã. Não havia  nenhum paciente marcado para aquele horário. A secretária do doutor ao abrir a porta da sala do médico para lhe passar a agenda do dia levou um susto ao ver o corpo do doutor caído e sem vida. Chamou a ambulância do hospital da cidade e assustada viu a anotação dos dois nomes no bloco de receitas.
Três amigos para sempre!
Pesquisou no arquivo do computador. Não havia aqueles dois nomes. O que aquilo significava? Naquele dia, ela chegou alguns momentos antes do doutor Mauro e não viu ele atender ninguém. Ela foi a primeira pessoa, depois do doutor Mauro, a entrar naquele local.
Então quem seria Arsênio e quem seria Lupi?  Permaneceu em silêncio até a ambulância chegar.
Naquele mesmo dia, o dia em que Mauro morreu, no jornal da cidade onde Mauro, Arsênio e Lupi cresceram, havia um convite de missa do décimo ano dos falecimentos de Lupi e do Arsênio

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