É MENTIRA!

Logo pela manhã, quando aquela criança sorriu para mim, confesso que fiquei surpreso e emocionado. E  ela gesticulava bastante.

Pudera, ali naquele local, onde pessoas caminham e nem se olham uma às outras, eu percebi que aquele sorriso infantil podia significar algo  muito bom para  mim. Logo em seguida, ela  colocou a sua mão direita sobre a boca e jogou para mim uma beijoca. Fiquei feliz e acenei para ela,  recebendo como resposta um balancear da sua mão como um toque de despedida e vi que os seus lábios se movientaram dizendo: "tchau!"

Assim foi aquele encontro.

Mesmo sentindo um ventinho frio no abdomen, talvez em consequencia do sorriso daquela criança, continuei a caminhar, sem saber o porque das pessoas que passavam  me olhavam com surpresa  e sorriam para mim.

Que coisa! O que é que estava acontecendo naquela quarta feira?

Algumas chamavam a atenção de outras para que me olhassem e isso foi acontecendo com qualquer um que surgisse no cenário.

De repente, me identifiquei como um idiota no meio de muitas crianças e adultos olhando para mim,  sorrindo e sussurrando entre elas  e mandando "tchaus" e outros acenos.

Pensei comigo como era bom ser admirado por tanta gente que  balançavam as suas mãos em minha direção, como se fossemos conhecidos. Vi que algumas daquelas agradáveis figuras tentavam se comunicar comigo através de vários sinais como se estivessem querendo me contar algum fato.

Percebendo que o número de pessoas aumentava,  comecei a ficar preocupado porque elas estavam em pé na calçada da esquerda daquela rua central e eu estava na calçada da direita, próximo ao sanitário público masculino que utilizei momentos atrás.

Num dado momento ouvi um grito no meio daquela pequena multidão avisando que um political se aproximava. 

Quando me dei conta do quadro, o dito cujo me perguntou:

- O que o senhor está fazendo sem suas calças?

- Como?

Olhei para as minhas pernas e vi que era a verdade.

-É mentira! É mentira! - comecei a gritar.

Foi aí que eu entendi o porque de estar sentindo um friozinho nas partes  íntimas e baixas do meu corpo. Saí correndo em disparada, sob os gritos de alerta daquele pessoal que até então eu estava considerando amigos e amigos.

- Pega o tarado!

Tarado? Quem? Eu? Meu Deus. Continuei correndo para o infinito.

Deve ter sido divertido ver um senhor, com certa idade, correndo como um louco desmiolado, pelas ruas da cidade, pelado da cintura para baixo e gritando:

-É mentira ! É mentira!

Né não?  Pois é!