domingo, 6 de outubro de 2013

TEMPESTADES E FURACÕES

                     Aldo Zottarelli Júnior

Segundo os entendidos, não há nada mais triste do que um domingo com cara de chuvas.
Pois é! Quem pensa assim é quem nunca viu um domingo com tempestades e chuvaradas para tudo quanto é lado.  Aí sim é que seria triste mesmo. Ou mais triste, com  um furacão derrubando tetos das casas, virando automóveis no avesso, vacas, bois, cavalos, cachorros e outros animais atirados ao ar, árvores sendo arrancadas pelas raízes com a força da natureza revoltada, águas saindo dos leitos dos rios, dos lagos, das lagoas e dos mares em enchentes jamais esperadas, etc. Bem, não se trata apenas de um ato da natureza mas da sacanagem que ela faz com a gente. Não é? E tudo isso num domingo. 
É triste para a visão e para a mente de qualquer pessoa.
O leitor está esperando que eu aponte esse tipo de problema como se estivesse vivendo ou que tenha vivido com ele. Lêdo engano! 
Lá vai.
Num dos meus domingos em Astoria, no Queens, Nova Iorque, o céu amanheceu todo encoberto com nuvens cinzentas e o pessoal daquele bairro da Big Apple achava que iria cair uma chuva pra ninguém botar defeito. Pois bem, fiquei esperando por ela e ela não veio. Deve ter caído nas proximidades. Ótimo para mim e péssimo para quem ficou molhado ou trancado em algum lugar, fugindo das águas atormentadoras.
Mesmo assim, fiquei observando o comportamento das pessoas e de alguns pássaros - pequenos e grandes - que se deslocavam com  rapidez e com o receio de serem apanhados pelas chuvas.
Que coisa que esse tipo de problema acarreta em todos os personagens viventes numa comunidade, seja ela de qualquer país e falando qualquer idioma. Aliás as chuvas não falam. Descobri isso há algum tempo. Elas apenas enchem o saco. 
Entretanto, não é assim que os homens do campo pensam a respeito dessas águas  que caem do céu e que a maioria dos outros mortais pensam. Mas vamos deixar esse papo pra lá e vamos ao encontro do Filadelfo, homem bom, com seus quarenta e tantos anos de vida conjugal pouco perturbada. 
Contei a ele a minha preocupação com os estragos que as chuvas ou as tempestade ou furacões podem causar ao homem.
- As coisas não são bem assim.- disse-me ele.
- Como não são.- respondi.
Ele olhou bem para os meus olhos e me perguntou:
- Você é feliz com a sua mulher?
- Sim, eu sou.
- Não há nada que atrapalhe esse relacionamento?
- Nada!
- Nada mesmo?
- Nadica de nada. Por que essa pergunta?
- Eu explico. O dia que você for contemplado e ganhar uma sogra como a minha, jamais ficará preocupado com tempestades e furacões e outros tipos de chuvas.
- Ué, por que?
- Não existe estrago maior na vida de uma pessoa do que as broncas, palpites e influências de uma sogra. 
- Verdade?
- Claro. É pior do que qualquer furacão destruidor que alguma  mente possa imaginar e aguentar.
Permaneci em silêncio, ao ouvir essas palavras.
- Antes que você fale alguma coisa - disse-me Filadelfo - é melhor eu me retirar. Tchau!
E se retirou correndo como se estivesse apavorado.
Enquanto isso,  eu fiquei pensando nas nuvens escuras nos céus de Astória, em Nova Iorque e sorri para mim mesmo me perguntando:
"Será verdade o que o meu amigo me falou?"
Imaginei a dona Ambrozina, a estimada e querida sogra do Filadelfo, atormentando-o com aquela voz alta e desafinada, lembrando uma taquara rachada e ponha rachada nisso.
Seria algo assustador e inenarrável. 
Fiquei com pena dele. 
Ah, coitado!

O autor é educador, escritor e músico

e mail: aldozottarellijunior@gmail.com

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