segunda-feira, 2 de setembro de 2013

UMA DECEPÇÃO SURPREENDENTE.

                                                                         Aldo Zottarelli Júnior
Eu vi com estes meus olhos que a terra irá um dia comer. . .
Engraçado! Entre nós, os mortais atuais, expressões como esta são comuns, principalmente quando nos encontramos batendo papo com os amigos.
Entretanto, confesso ser verdade o que irei contar a partir de agora.
Para tudo, neste Brasil varonil, é caso de piada ou de graça.Até em velório, notamos e condenamos a falta de respeito de grupinhos de pessoas dando risadas ao ouvirem algum caso engraçado.  E o morto, ali oh, quietinho e sério dentro do caixão não podendo se manifestar de jeito algum. Pois é.
Vamos aos fatos.
Durante o período em que aconteceu a única revolução nacional neste país, havia, em Cubatão, um major do exército, direitista até demais e tinha como o seu maior ódio o tal do regime socialista e comunista que os esquerdistas brasileiros queriam implantar por aqui, sendo derrotados pelos militares, com a ajuda do povo brasileiro. A sua grande alegria, causando momentos de felicidade era quando ele via e falava com a sua filha, linda garota com dezesseis anos e atraia a todos pela sua formosura, etc. Daí o grande ciúme que ele tinha da sua filha.
Um dia, esse menina disse ao pai que estava com um caso com um colega de classe.
- Como caso?- perguntou o major.
- Namoreco, papai - respodeu Berenice. Berê para os íntimos.
- Como namoreco? Você nunca irá ter algum caso com essa denominação. Está ouvindo bem?
- Sim papai. Não seria um namoreco. Seria um namoro.
O major ficou com  o rosto vermelho e, irritado, intimou à sua filha que trouxesse esse tal namorado que ele gostaria de conhecer pessoalmente e ter um papo sério com ele.
- Mas papai, ponderou a Berê. O senhor é muito bravo e tenho medo de apresentar o meu namorado para o senhor. Nem imagino qual seria sua reação.
- Fique tranquila, minha filha. Traga o bicho para eu conhecê-lo.
E ficou combinado, entre pai e filha, que o dito cujo namorado da dita cuja seria apresentada na noite da próxima sexta feira.
A expectativa era grande de parte do casal de namorsados e do pai militar bravo e de peito estufado.
Na data e hora combinada, Berê chegou no terraço da casa onde morava e a sua mãe veio receber e conhecer o namorado da filha.
- Como é o seu nome?- perguntou dona Esmeralda, a mãe.
- Jus...Jus...Justino - respondeu o garoto um pouco nervoso.
- Bonito nome. Fique tranquilo que o meu marido, apesar de ser militar bravo, é uma pessoa carinhosa e caridosa.
"O que será que essa mulher quis dizer com caridosa?"pensou Justino.
Berê segurou nas mãos de Justino e entraram na sala da sua casa. Lá se encontrava o "homem". Amigo ou inimigo?  Eis a questão!
- Papai, este é  Justino, o meu namorado.
Somente o Major poderia sentir a raiva ao ouvir aquelas palavras da sua filha. Tentou ser educado e disse ao Justino.
- Por favor. Sente-se e vamos conversar. Você, filha, fique no terraço com a sua mãe.
Berê obedeceu e deu uma piscada de olhos para o pai, como se estivesse pedindo calma e tranquilidade com o seu querido Justino.
Depois de olhar atentamente e muito sério para o jovem, afirmou:
- Eu sou um militar da direita e gosto das coisas certas e deploro a mentira e a falsidade que são as armas desses comunistas que quiseram tomar conta da pátria amada e nós não deixamos.
- Entendo, senhor. - afirmou Justino.
- Quantos anos você tem - perguntou o major.
- Dezoito anos.
- Jovem demais, mas vamos em frente.
- Você estuda com a Berê?
- Sim major. E trabalho também.
- Onde?
- Nas Casas Bahia.
O Major ficou em silêncio por alguns instantes e voltou a perguntar:
- Você trabalha na administração das Casas Bahia?
- Não! Sou empacotador da loja de Cubatão.
" Meu Deus! Onde a minha filha foi arrumar um cara como esse?
Empacotador das Casas Bahia?"
- Ok. Tudo bem. Você deve ganhar bem, não é? - perguntou o Pai um pouco aflito.
- Ganho bem, sim senhor. Seicentos reais mensais.
- O quê? Seicentos reais por mes? - perguntou o militar já se levantando da cadeira onde estava sentado.
O garoto se assustou com a conduta do pai da Berê e se levantou também.
- Olha aqui seu moleque - disse o Major bastante irritado - o seu salário mensal não paga as despesas da minha filha com papel higiênico, ouviu?
Justino balançou a cabeça como se concordasse com as aflrmações do major e, sem dizer nada, se retirou da sala.
Ao passar pelo terraço, Berê veio em sua difeção tentando sorrir e perguntar como foi a conversa dele com  o seu pai.
Justino, apressado, aproximou-se da sua namorada e exclamou em voz alta:
- Tudo terminado entre nós -  e completou - Sáia pra lá sua cagona.
Um decepção surpreendente

O autor é educador,esritor e músico.
e mail : aldozottarellijunior@gmail.com

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