sábado, 24 de agosto de 2013

EU VI !

                                                                     Aldo Zottarelli Júnior

Eu vi um pássaro voando.
Pois é, quem diria que um dia eu viria a afirmar que tinha visto um pássaro voando, se todos nós já vimos a mesma coisa.Só que mais adiante, esse pequeno pássaro foi perseguido e morto por um outro pássaro: o gavião.
Eu vi um carneirinho pastando.
Branquinho e emitindo aquele "mééé" - som próprio de um carneiro infantil- procurando comer a grama por onde passeava. Repito: passeava porque o carneiro gosta de passear por aqui e ali. Passear e pastar, né? Esse pequeno e bonito quadrúpede estava feliz da vida. No dia seguinte, ele desapareceu. Um lobo, durante a noite, o matou, comeu  e so deixou os ossinhos do bichinho.
Eu vi um gatinho lindo e maravilhoso. Siamês. Os seus olhos eram da cor azul piscina em contraste com seus pelos da cor bege. Pulou sobre o meu colo e ficou olhando para mim como se já me conhecesse bastante. Depois foi para o chào prourar o que pretendia encontrar. Encontrou um pedaço de carne crua e a papou. Ela estava envenenada. Maldade do meu  vizinho que não gostava de gatos. O felino maravilhoso partiu para o outro mundo. 
Eu vi uma galinha cocorocar, anunciando a vinda de um novo ovo ao mundo, digo no galinheiro. Linda e bastante gorda ela estava feliz anunciando o seu novo feito. Na escuridão da noite, ela sumiu. Uma raposa a comeu. Inteirinha!
Eu vi um bezerro. Marron e bem alimentado demais para ser um bezerro. Andava de um lado para o outro e, às vezes, pronunciava o seu "múú" de protesto ou qualquer outro motivo. Todos os dias, eu acordava e abria a janela do meu quarto em frente do local onde o bezerro costumava se alimentar. Aí, ele desapareceu! Os seus restos estvam no matadouro municipal, nas formas saborosas de picanha, costela, filé, contra filé, etc.
Eu vi um peixnho colorido, num aquário em uma loja da minha cidade. Fiquei alguns minutos olhando para aquele pequeno mortal balançando a suas nadadeiras  e nadando de um lado para o outro mandando beijinhos ou, talvez, tentando abocanhar algum alimento boiando nas águas limpidas do local onde ele estava. No manhã seguinte, eu voltei àquela loja para ver o peixinho colorido. O aquário estava sem água, vazio e, evidentemente, sem o dito cujo peixinho colorido. Ele morreu durante a madrugada.
Depois disso, resolvi procurar outros cenários. Foi demais para mim, ver as coisas e depois elas desaparecerem. Dei azar! Três toques na madeira. Sái pra lá, ô meu!
Daí, eu vi pessoas de todas as idades caminhando descontraidas e, de repente, começaram a correr de um lado para o outro como se estivessem fugindo de algo perigoso ou mosntruoso, A maioria era constituida de mulheres e crianças.  Surpresa: uma explosão!  Assentadas a fumaça e a poeira, apareceram os corpos espalhados pelas ruas daquela cidade importante da Siria. Ninguém sobreviveu à chacina.
Lembrei-me de que fatos idênticos aconteciam em muitos cantos deste mundo onde pessoas inocentes são sacrificadas sem pena ou dó e nós não conseguimos mudar essas coisas apavorantes e sem nexo.  Procurei esquecer a tal visão e procurei ver outros acontecimentos.
Eu vi um barco saindo de um porto com a sua tripulação de pescadores, partindo em busca de uma boa pescaria para ser comercializada e dar a  eles o que precisavam para manter vivas as suas famílias. O barco jamais voltou e ninguém mais teve notícias dos pescadores.
Eu vi um avião levantando vôo de um aeroporto internacional com mais de 200 pessoas a bordo. Todas os passageiros tinham traçados os seus objetivos para estarem acomodados naquela aeronave. Duas horas depois, ele caiu e não sobrou nadica de nada de ninguém para contar o que havia acontecido. Talvez tenha  apenas a caixa preta do avião.
Incrível! Tudo o que eu vi, sumiu em minutos. Pô o que é isso? Tô fora!
Eu vi uma pessoa falando bonito, como se estivesse discursando, demonstrando conhecer os problemas da população do meu país e apresentando as suas soluções para a felicidade de todos nós. Ele somente pedia, em troca da realização das suas promessas, os nossos votos nas eleições que se aproximavam. Pois bem, depois do pleito e dos resultados serem anunciados, onde ele havia sido eleito, nunca mais esse cara apareceu diante de nós e da minha cidade. 
Eu vi, quando comecei a enxergar, dias depois do meu nascimento, a alegria daqueles que me pegavam e, em seus braços, me falavam palavras benditas e felizes, desejando que a importancia do meu nascimento fosse compartilhada por outras  pessoas, que depois fiquei sabendo que se denominavam de parentes,familiares e amigos.
Eu vi, também, que eu representava um futuro incrível para a minha familia e, talvez. para a sociedade que me aceitou como seu membro. Bacana, né?
Os anos se passaram e eu vi outras coisas mais e tudo o que eu vi acabou desaparecendo das mais variadas maneiras, como o tal cara de fala mansa e bonita que pediu os meus votos. Onde foi parar esse abestalhado? Brasilia? Pode ser?
Pois é. Aqui, eu continuo a ver o que não pedi para ver.
Penso, neste momento, se não estou aguardando um chamado para também desaparecer. 
Se isso acontecer é possível, pelo menos, que eu vá encontrar, novamente, o passarinho, o carneirinho,o gatinho, a galinha, o bezerro, o peixinho, os pescadores desaparecidos e aquelas pessoas inocentes que morreram em atentados criminosos pelo mundo.
Uma pergunta que nã quer calar: e o cara que falava bonito e tomou os meus votos, onde ele estará?
Quem é que sabe?
                                               O autor é educador, escritor e músico
                                               e mail: aldozottarellijunior@gmail.com
                                               bog: www.notasdoaldo.blogspot.com

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