terça-feira, 10 de setembro de 2013

PROBLEMAS DE LINGUAGEM

                                                        Aldo Zottarelli Júnior

- Obrigado, Claudete.
- Não é Claudete, é Odete.
- E daí? Ambas tem o "dete" em seus nomes, não têm?
- Têm
- Daí, estamos em casa, não estamos?
- Casa de quem?
- Da dete, né?
Ele sempre foi assim, diziam os amigos, e a confusão de nomes e de palavras era a coisa mais simples que acontecia com ele.
Um dia, ele estava estudando a história antiga e viu o desenho do Colosso de Rodes, uma das maravilhas do mundo e se entusiasmou. Procurou o professor do colégio para contar como ele havia ficado impressionado com aquele monumento grego.
- Professor. Hoje eu fiquei espantado com o monte de ossos daquele rodão que é um monumento da Persia. 
- O que você está dizendo?
- Aquele monumento gigante que é considerado uma das maravilhas do mundo antigo.
O professor ficou pensando no que o seu aluno lhe disse. De repente veio o estalo.
- Será que você não quis dizer o Colosso de Rodes, uma das ilhas da Grécia? 
- Isso, isso, isso. Colosso de Rodas
- Rodes, meu caro. A grande estátua, com 30 metros de altura, representava Helio, Deus do Sol da Mitologia Grega e foi construído entre os anos 290 e 280, antes de Cristo.
- Isso, isso, isso. Antes de Cristo já é uma boa, não é professor?
Muitos exemplos eu poderia citar das bobagens e das palavras trocadas que o Deutônio fazia. Alem disso, ele era muito teimoso com as suas tiradas erradas e a sua teimosia era igual a de um jumento com todo o seu conteúdo, grau e etc.
Quando ele trocou "forte" por "porte" foi demais. Ele afirmou que o forte de armas seria "um crime de alta abstinência, previsto no código civil universal, dentro da conjuntura internacional. Deveria ser discutida na ONU, em Nova Jersey." Olha aí a confusão. Trocou até a cidade sede das Organização das Nações Unidas:  Nova York por Nova Jersey.
Continuando, ele afirmava:  "nenhum portudo teria a força para enfrentar tal diabrura". Deu pra entender? Então me explique o que ele quis dizer com tais afirmações? 
Adivinhar o que aquele cara dizia era uma forma de passatempo construtivo para caramba, sendo complicado demais para se tentar a adivinhação.
Uma vez, ele ficou com tanta raiva de um amigo e não perdoou o coitado.
- Sei que você anda falando de mim - disse ele - e se continuar eu vou lhe dar um burro. Tá?
- Por que um burro? Eu não quero burro algum.
- Vou dar, assim mesmo! E na sua cara!
- Um burro na minha cara? Não entendi.
Ele queria dizer um murro, soco ou algo parecido. Seria engraçado ele carregar um burro e joga-lo na cara do amigo. Não seria? Vamos imaginar a cena. Impressionante!!
Esse tipo de pessoa é bastante comum num país onde o idioma provoca muitas condições para que as palavras  sejam trocadas, ou que tenham significados diferentes, mas  com a mesma ortografia e com sons parecidos 
Dizem que para falar besteira, bastar abrir a boca. Nem é preciso ser um Deutônio,para tanto.
E não é que isso é a mais pura verdade.
- Verdade, verdadeira ou mentira, mentirosa? - Deutônio poderia perguntar.
Pois é. Aí está. Basta abrir a boca ou escrever alguma coisa e lá vem besteira.
Já perceberam que acostumamos a não nos acostumarmos com a nossa língua portuguesa porque ela é demais complicada. Parece que os outros idiomas são mais fáceis de serem compreendidos e, com isso, tudo fica mais compreensivo na comunicação pessoal entre os que falam ou entendem os idiomas dos gringos. 
Conheço bem as confusões que aparecem quando as palavras sinônimas são utlizadas em nossa linguagem. Na maioria das vezes, tais confusões são consideradas "homéricas"  (onde eu fui buscar isso? Homéricas? ) e somente são explicáveis por aqueles que amam e estudam a nossa língua portuguesa. Não é?
Há palavras que são escritas com "c" ou com dois "s" deixando muita gente atrapalhada e  quem as ouve, disfarça com um sorriso maroto. Pura maldade!
Entrei numa loja do Shopping e ouço uma vendedora loira,bem maquiada e linda, perguntar para outra vendedora, também muito bonita, com uma voz leve, solta e feminina, se a palavra "passeio" era com "c" ou com dois "s".
Confesso que senti uma enorme vontade de dar um sorriso amarelo. Deixei pra lá e saí daquele local indagando a mim mesmo porque é que o nosso idioma oferece tantas dúvidas, como a daquela vendedora loira. Falta de escola? Talvez. Falta de leitura? Talvez. Falta de qualquer coisa? Com certeza! Absoluta!
Lembrei-me do Deutônio quando, num velório, ele afirmou para a viúva, diante do caixão fúnebre de seu marido, que "infelizmente, estava morrendo gente que nunca morreu!"
A mulher, olhando para ele, aumentou o seu pranto de dor, gritando:
- Tira esse homem daqui.
Foi o coroamento daquele imbecil ou ignorante . Agora eu pergunto: ele tem razão, ou não?
A vida nos prepara muitas surpresas e nos mostra que há inúmeros Deutônios por ai...
Alguém duvida?
                                               O autor é educador,escritor e músico
                                               e mail: aldozottarellijunior@gmail.com

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