quinta-feira, 1 de março de 2012

VACAS E PORCOS

É muito comum pensarmos que o fundamental sempre acontece com as outras pessoas.
Assim é que as doenças, a sorte grande, os acidentes, ou até a morte etc, sempre acontecem com os outros e nunca com nós mesmos. Pois é, eu tenho dois casos que giraram ao meu redor. Vamos lá.
Come grama e produz o leite
Em 1963, numa das mesas do restaurante da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, eu estava ouvindo dois deputados conversando sobre amenidades políticas quando o assunto voltou-se para o setor da agro-pecuária. Um desses políticos era o presidente da casa, deputado Ciro Albuquerque, recém chegado de uma viagem aos EUA, onde foi conhecer as novidades implantadas pelos agro-pecuaristas norte-americanos.
Ao contar o que viu e conheceu por lá, entusiasmou-se, principalmente ao narrar uma alternativa encontrada nas fazendas de gado, onde o problema do custo da energia elétrica caiu muito depois que apareceu uma espécie de instrumento especial de extração do leite e captador do calor,  no momento em que o leite é extraído das tetas da vaca. E explicou que, ao sair da vaca, o leite vem muito aquecido e o tal aparelho absorvia esse calor para depois ser utilizado na produção da energia elétrica da fazenda.  Com isso, a redução dos gastos era inevitável.
Preparadas para dar o leite
Nós que estávamos ouvindo o que o deputado estava contando, chegamos a sorrir e duvidar do que ouvimos. Quando o narrador afirmou que se tratava da mais pura verdade e que ela  representava o mais avançado processo tecnológico na produção da energia elétrica e que a maioria das fazendas da produção de leite daquele país utilizavam do mesmo expediente,  passamos a ver com mais seriedade o que o deputado Ciro narrou.
Não sou agro-pecuarista e nem entendo nada sobre fazendas, sítios, vacas extração de leite, etc. Porém fiquei curioso em querer ver  e conhecer aquele procedimento de apertar as tetas das vacas e delas extrair o seu leite diário e ao mesmo tempo produzir energia elétrica. Absurdo? Não sei. Quem souber que diga agora ou se cale pra sempre. Posso afirmar que ainda duvido disso e continuo a sorrir, como fiz quando ouvi essa história ou estória. Sei lá.
Outro fato me foi contado por um português recém chegado do Alémtejo e pautava, também, sobre a  agro-pecuária.
Num sítio, onde a sua principal fonte de produção era a criação de porcos, o proprietário se gabava de ter os porcos mais gordos e sadios de Portugal. De tanto falar aos outros sobre tal performance, o assunto chegou ao setor de fiscalização do governo que mandou para lá um agente para verificar como é que os porcos daquele sitiante eram tratados.
Ao chegar no local, o agente viu que os porcos eram grandes, gordos e sadios. Ao ser perguntado sobre o método alimentar aplicado aos seus porcos, o
"seu"Manoel, o proprietário,  com a satisfação estampada no rosto do criador dos porcos,  contou: "Dou o melhor leite de vaca para eles."
Porcos bem tratados
O agente olhou diretamente para os olhos do Manoel e afirmou que iria multá-lo porque ele  estava dando leite aos porcos e deixando muitas crianças pobres sem o seu principal alimento que seria o leite.
Lascou a multa alta e sem qualquer sorriso no rosto. Manoel esbravejou mas de nada adiantou as suas reclamações. Teve que pagar a multa.
Passados alguns  meses, aquele criador de porcos recebeu a visita de outro agente fiscal do governo que lhe fez a mesma pergunta sobre a alimentação dos seus porcos maravilhosos. Como ele já estava preparado, respondeu que a alimentação dos suínos era baseada nos restos e sobras de comida jogadas no lixo. Seria a eficácia da frase "sobrou, estragou, dê para os porcos!"
O agente não aceitou e criticou tal procedimento  multando o criador de porcos, alegando que os suínos comiam a tal comida estragada e, depois de mortos, a sua carne alimentaria as pessoas, com o risco de contaminá-las com doenças, etc. Lascou outra multa e agora bastante alta.
Nada adiantou a reclamação do "seu"Manoel.
Quase um ano depois, surge no cenário dessa porcaiada a figura de um terceiro agente do governo. Baixinho e carrancudo.
Ao se identificar, perante o "seu"Manoel, este contou as duas histórias ocorridas com os companheiros daquele agente que o multaram pesado, não deixando o criador de porcos se explicar.
O agente não quis saber nada a respeito e mandou a pergunta inevitável, rápida e rasteira, pedindo explicações de como aqueles porcos gordos, grandes sadios e maravilhosos eram alimentados.
Lanchonete especial
Manoel, lembrou-se da  esfrega que passou ao responder com sinceridade para os dois agentes anteriores. Pensou um pouquinho e respondeu que não dava nada para alimentar os seus porcos.
O baixinho e carrancudo duvidou. Então o português criador de porcos explicou:
"Eu dou dez coroas a cada um deles e eles vão na lanchonete mais próxima deste sítio e comem e bebem o que quiserem. Tá bom assim?"
O agente multou o "seu"Manoel por desacato.
Manoel desmaiou e caiu de quatro,  como um porco, na pocilga dos seus suínos. Quando acordou, viu que eles, os seus porcos sadios, gordos e maravilhosos, ainda não tinham voltado do almoço na lanchonete. Respirou fundo e se afundou de cabeça na pasta fétida e pegajosa esparramada naquele local, onde a sua criação nobre e sadia come e dorme.


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