O SAMBA É SEU, DOM!

Sempre gostei de música. Dom de família, diriam alguns, tendo em vista que o meu avô Victório Zottarelli foi um excelente instrumentista, arranjador, compositor e maestro. Suas performances eram mostradas na banda onde tocava, em Rio Claro.
Desde menino, eu me metia a tocar acordeon, conhecido também como sanfona. Foi,
nessa época que eu conheci, na Cidade Azul, um garoto de cor, simples, educado, meio gago ao falar, porém com um talento músical jamais visto. Estudou música e tocou em vários conjuntos e orquestras  até que, um dia, resolveu tentar a vida como músico,em São Paulo, levando uma pequena mala e a sua inseparável sanfona. De São Paulo para o Rio de Janeiro foi um pulo.

Grupo Abolição

Dedicou-se totalmente ao piano e integrou-se com outros grandes músicos da época no maior movimento da música popular brasileira - a bossa nova. Conhecido pela sua técnica e pelo swing próprio que colocava nas suas apresentações, ele foi ficando cada vez mais famoso. Tocou e gravou com todos os cantores, cantoras e músicos importantes do Brasil. Formou um grupo  colored dando-lhe o nome de Abolição e assim buscou colocar em vários recantos do mundo a popularidade da musica brasileira. E conseguiu!
O seu nome abria portas para o sucesso.
Veio a oportunidade de tocar em Nova Iorque. E para lá, ele foi e ficou até hoje, decorridos mais de 35 anos do seu pisar no solo norte-americano. Todos esses anos ele se apresenta todas as noites no restaurante nobre do River Caffe.

River Caffe em N.Y.

O seu nome ficou marcado por aqui e, sempre que ele é pronunciado, já se sabe que o grande artista, o grande ídolo da musica instrumental brasileira , está presente.
Depois de todos esses anos sem se apresentar diretamente ao publico brasileiro ele voltou. Há cinco anos, ele foi convidado para tocar num festival de jazz, em São Paulo. Foi onde eu, novamente, o abracei depois de tanto tempo, longe um do outro.Ele, como eu, ficamos bastante emocionados com o encontro. 
Como a vida nos prepara surpresas e mais surpresas, o meu filho Maurício foi estudar música no College of Music, em Boston. Depois de diplomado, foi para Nova Iorque para se apresentar nas casas noturnas e Jazz Houses de lá.
Foi apresentado ao famoso pianista, ícone dos músicos e das músicas brasileiras da Big Apple nascendo, entre eles, uma grande amizade. Maurício foi convidado e gravou o último CD daquele músico famoso e este gravou o CD de Maurício.  Surgiu, em seguida, uma parceria muito elogiada pelo público exigente de Nova Iorque.
Em 2009, no Copa Fest, no Rio de Janeiro, o grupo se apresentou e arrebatou aplausos jamais vistos naquele tipo de festival. Eu estive presente e pude comprovar os elogios da platéia para cada um daqueles novos músicos quando solavam e improvisavam os temas. Fantástico! 
O meu velho amigo era só sorrisos por entender que ali, naquele festival nascia tudo novamente para ele e iniciava a realização de um sonho dos jovens músicos que o acompanhavam.
Hoje esse velho amigo irá se apresentar no SESC- Pompeia, em São Paulo. Tenho o meu ingresso em mãos e vou ocupar uma das cadeiras da primeira primeira fileira daquela casa de espetáculos. Com certeza, estarei trêmulo de emoção.. 
Vu me deliciar com o swing do pianista e do seu grupo Abolição, sempre vivo e marcante com a sua história desde o nascimento até os nossos dias. Será inesquecível! 
Já imaginaram ver e ouvir o DOM SALVADOR novamente com o seu sorriso e a sua maneira singular e inimitável de tocar as teclas de um piano.

O samba é seu Dom!

O mesmo Salvador que, quando criança, era apenas o Tuim para mim e para outros seus amigos. O Tuim que ganhou o título de cidadão emérito de Rio Claro e que o faz chorar de felicidade, todas as vezes que se lembra daquela noite em que foi homenageado num dos clubes rio-clarenses.
Daqui 10 dias ele irá chorar de alegria, novamente. A Escola de Samba GRACIFS o escolheu como tema da escola para desfilar pela avenida. E lá ele estará desfilando e acenando ao povo agradecendo a homenagem de ser lembrado, aplaudido e cantado em versos maravilhosos feitos exclusivamente para ele. 
Você merece, meu caro amigo Tuim, porque o Samba é seu Dom!