segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

SAUDADES DO ADONIRAM.



Estamos em 2012!
Alegria contagiante nas comemorações  do ano que se iniciou carregado de fé e esperança para todos.
Quero ouvir música. Ligo o rádio e ouço a voz rouca do cantante Adoniram Barbosa com os Demônios da Garoa.
Fui ao passado. Vários anos antes de hoje.
E vejo aquela turma da pesada que gostava de ficar ouvindo Adoniram cantando as suas composições onde continham as estórias de  cada um deles.
Pois é. Mato Grosso e o Joca estavam mais felizes do que os demais porque tinham acabado de encontrar uma outra maloca abandonada. Agora, eles não precisavam mais "pegar as páia" nos gramados das praças e jardins da cidade. Gostavam, também, de cantar com o Adoniram, tentando uma espécie de trio, um tanto desafinado, onde a voz rouca e atrapalhada do Adoniram se destacava. 
Era uma tarde de domingo e o bairro do Bexiga estava alegre e feliz. Muita cachaça, vinhos e cervejas regavam os macarrões do tipo "mama" pelos restaurantes e bares da rua Treze de Maio, próximos à igreja da Nossa Senhora da Acaropita,  naquele lado "italiano "e alegre da capital paulista.
O convite do Nicola para ir à sua casa caiu como uma luva e lá estava a turma toda para mais um "samba" como eram chamados os encontros regados a samba  cachaça e . . . pizza! 
Quem deixou de ir foi o Bipo, o italianinho,que mora em Jacanã, bairro um pouco distante do Bexiga. Ele continuava a ser, com 40 anos, "filhinho da mama" que só dormia depois que ele chegava. O último trem para aquele bairro saía as 11 horas da noite, justamente quando o "samba "estaria mais animado e depois, só na manhã seguinte.  A "mama" iria ficar zangada se ele não dormisse em casa. Todos compreenderam e aceitaram, tristes, aquela ausência porque o Bipo cantava muito bem e falava engraçado numa mistura de português com italiano, característica da maioria do povo paulistano de Moema, Brás, Jaçanã e Bexiga. Para não ficar esquecido, o primeiro brinde de cachaça da turma foi em homenagem ao "fratello" Bipo. Bem lembrado!   
Entre os que compareceram estava o Arnesto - como Adoniram o chamava - ainda  envergonhado por ter se esquecido e aprontado com os demais com o "samba"que ele combinou de fazer, lá pelos lados do Brás. Convidou todo o mundo e acabou dando a maior mancada com o pessoal. Sumiu! Todos foram para um barzinho  próximo da casa do Arnesto e lá permaneceram, bebendo, até o amanhecer do dia seguinte, esperando ele aparecer e combinaram, também, que, daquela data em diante, o Arnesto seria apelidado de "Tatu".  Adoniram explicou: " O tatú cavoca o buraco da sua casa para morar e depois fica o tempo todo fora dele, curtindo a vida" 
O Arnesto justificou que se esqueceu do "samba" combinado para a sua casa porque encontrou, pelos lados da rua Major Sertório, uma mariposa muito bonita, gostosa e dengosa que ficou com ele a noite toda se esfregando e se esquentando "na sua lâmpida" e curtindo muito. Justificativa aceita pelo Adoniram, que afirmou: "Nêgo, não se fala mais nesse assunto!". 
 Nicola convidou o protetor de todos eles, o Sargento Oliveira, para participar do "samba", em sua casa. O sargento já sabia que a reunião, lá pela meia noite, poderia acabar em briga, porque a cachaça era boa e todos ficariam embriagados em nível alto. Isso realmente aconteceu. A briga começou com empurrões pra cá e pra lá, com pedaços de pizzas voando em todas as direções. O sargento Oliveira,deixou duas ambulâncias de prontidão porque tinha a certeza de que o "pau" iria comer solto.
Adoniram, como  o mais velho, se desviava das "brajolas" que também eram atiradas e se enfiou embaixo da mesa da sala apreciando o "quebra pau" e, se divertindo, via o Nicola brigar. Daí, começou a gritar: "calma gente! Calma! Calma!"  Infelizmente, naquele momento, ninguém queria ouvir os seus gritos de alertas.  Assim, o "samba", mais uma vez terminou em pancadaria.
Adoniram, observando o final da confusão, onde alguns já estavam sendo atendidos pelas duas ambulâncias, aproximou-se do Sargento Oliveira e agradeceu os trabalhos do policial amigo da turma.
"Gosto muito de todos vocês. Mas já está na hora de vocês pararem com essas brigas." sugeriu o Sargento.
"Eu já disse pra eles, sargento. Mas eles não me ouvem"- justificou Adoniram, com a sua voz rouca e inconfundível
"Ainda bem que eles não sabem atirar. Os pedaços de pizza e "brajolas" não atingiram ninguém, graças a Deus!"confidenciou o sargento Oliveira.
Adoniram olhou para o sargento e perguntou:
"Meu amigo. Você não acha  que eles precisam de algumas aulas de tiro "ao Alvaro"?
Ambos caíram numa sonora gargalhada.

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