Uma praia de Porto de Galinhas, em Pernambuco.
Ali estou saboreando um queijo de coalho assado e bebendo um gostoso suco de caju quando aparece à minha frente um homem alto, magro, simpático com um violão embaixo do braço. Detalhe: a sua mão esquerda tinha seis dedos!
"Bom dia! O senhor gosta de ouvir repentes?" ele me perguntou.
Respondi que gostava e ele cantou um causo sobre o amor de dois jovens não aprovado pelo pai da garota, um caboclo da caatinga e muito bravo. Quando a sua filha apareceu grávida o pai matou o rapaz, responsável pela gravidez. A garota, por sua vez, acabou se matando, ao ver o seu amor morto pelo pai.
O repentista somente cantava os seus repentes ou causos nos finais de semana porque ele, Searapião do Arruda era advogado e procurador da prefeitura durante a semana. Inteligente e culto acabou me explicando o que era um caso e o que era um causo.
"Caso, dizia Serapião, é algo verídico que realmente aconteceu e, se possível, até com testemunha. É quando um veiculo, dirigido por uma pessoa inabilitada e bêbada, atropela outra que acaba indo para o hospital com fraturas em ambas as pernas. Daí, é um caso de polícia porque foi real e ocasionou vítima. Caso não se canta como repente. Agora o causo é inverídico, mentiroso e só serve para ser contado como estórias."
Daí em diante, ele me contou diversos causos e, entre eles, escolhi dois para ilustração.
Um pescador baiano resolveu pescar nas margens do rio São Francisco. Lá pelas tantas ele percebeu que havia algum peixe grande preso no anzol da sua vara de pescar. Como não conseguia tirar o aquático para fora do rio, pediu ajuda para outros pescadores que estavam ao seu lado. Não conseguiram! Teve a brilhante idéia de amarrar a linha na traseira do seu fusca e acelerou o bicho a toda velocidade até uns quilometros à frente.
" Conseguiu tirar o peixe? Quanto pesava o dito cujo?" perguntei.
Serapião, com um sorriso maroto me responde: "Tirar o peixe, não tirou, mas puxou a margem do São Francisco para muitos metros. Foi uma transposição inicial do rio que serviu de idéia para o governo mandar água para o interior seco nordestino.
O segundo causo, cantado por aquele repentista, contava a grande amizade entre Erivaldo e Adalberto que viviam no interior de Pernambuco. O primeiro gostava de caçar e saiu para conseguir alguma caça. O Alberto estava concluindo o seu curso de pilotagem de avião e foi para o aero-clube fazer a última aula prática. Lá pelas tantas, quando Erivaldo apontou a sua espingarda em direção a uma ave, ele ouviu o ronco de um avião que vinha voando baixinho em sua direção. Provavelmente seria o Erivaldo fazendo alguma brincadeira. Então ele resolveu brincar também. Apontou a sua espingarda em direção ao teco-teco e atirou. De repente o pequeno avião começou a se sacudir e perder altura. Caiu. Erivaldo correu em direção do acidente, tirou o Alberto do avião que começava a fazer chamas e começou a chamá-lo.
Alberto, semi-desmaiado,vagosamente abriu os olhos e disse para o Erivaldo:
"Justamente você. . . o meu melhor amigo. . . derrubou o meu avião com um tiro da sua velha espingar. . ." Não concluiu concluir a frase. Alberto morreu ao lado do seu melhor amigo.
Belo causo esse, não é mesmo?
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