Eu me lembro muito bem quando, ao observar o andar de alguém, o meu pai me dizia que todos éramos como uma carruagem. Dependendo de quem nos puxa, o andar seria diferente. Lento ou mais rápido. Dependeria sempre de quem estaria nos incentivando a andar.
Quando nascemos, somente iremos dar o nosso primeiro passo depois de alguns meses. E sempre só. Ninguém se meteria a nos dar a mão para ajudar, porque poderíamos assentar ao solo. Era mais cômodo. Se ficássemos escondidos, veríamos o bebê, por si só, tentando se levantar, abrir os braços na procura do equilíbrio e iniciar a uma pequena caminhada de metros. Conclusão: os nossos primeiros passos foram dados sem ajuda de ninguém. Ainda bem.
Crescemos e aprendemos a dar as mãos e até os braços para outra pessoa visando uma caminhada segura. Aliás essa aproximação, atualmente, já está em fase terminal. Não sei porque, mas que está. . . está!
Sentei-me num dos bancos do jardim e fiquei observando a maneira de cada um caminhar. Alguns em posição normal ou seja, ereto e firme enquanto que outros apresentavam defeitos com mancadas para a direita ou para a esquerda, graças a algum problema físico adquirido ou de nascença e outros que encontravam no rastejar a sua única forma de se deslocar.
De repente, surge a minha frente um casal de jovens caminhando de mãos dada.
Voltei a me lembrar do meu pai que demonstrou a mim as fases do caminhar de qualquer carruagem na forma de casal, segundo os anos de convivência mútua. Vamos lá:
Na fase do primeiro contato ou do flerte o casal caminha mantendo uma certa distância, um do outro.
No namoro, os namorados caminham lado a lado e de mãos dadas.
Noivado! Abraçados, vencem a distância que terão que percorrer, falando baixinho e com paradas rápidas para beijinhos ou beijões. Dependendo do lugar por anda passam pode ocorrer alguma esfregação. Isso sempre acontece.
Enfim, casados! Nos primeiro ano, há uma mistura de andar abraçados ou de braços dados. Um sorriso toda vez que seus olhares se cruzam, acompanhado de comentários românticos e até sexuais, em tom baixo, para que ninguém saiba o que eles falam.
Após cinco anos de casados o andar é apenas mais rápido mas, no máximo, ela segurando no braço dele. Poucos se olham a não ser para a defesa de uma pequena opinião ou discussão efêmera. Começam a perceber que ha outros homens bonitos e mulheres gostosas na terra. Isso é preocupante.
Dez anos de convivência! Poucas vezes ele dá o braço à ela. Apenas um olha para o outro com o "rabo"dos olhos e se preparando para responder e iniciar algum discussões.
Vinte anos de casados! Será? Uma pequena maioria diz que sim. O casal já não anda como um casal porque apesar de caminharem juntos, não se tocam e nem se olham.
Trinta anos de casados! Milagre? Alguns dizem que sim, outros poucos dizem que não. Para se ter uma idéia, apesar de estarem lado a lado, não se olham e nem conversam, não se importando com a caminhada e nem onde ela acontece.
Quarenta anos de casados! Aí já é demais para esse tipo de carruagem se deslocar. Ambos pensam em coisas diferentes. Tem gente que começa a pensar na morte do parceiro ou da parceira para ver como é que irá ficar o inventário. 'E mole?
Cincoenta anos de casados! Bodas de ouro! Festa! De quem e para quem? Só se for para os filhos e netos porque para os "noivos"é o absurdo de um ter aguentado o outro até aquela data. Mas não se falam e nem se manifestam em consideração aos seus descendentes. Na rua, eles não caminham juntos. É sempre um na frente do outro. À medida que os anos correm, a distância entre eles aumenta. E como aumenta./ Chega ao cúmulo de um deles se esquecer que está caminhando com o outro. Alzeimer? pode ser. Acontece!
E agora? Bem, daí em diante, não se conta mais. É a tal da espera da parada final e obrigatória da carruagem.
Não é mesmo?'
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