Ontem, eu saí de casa e fui até o litoral.
Como é chato ver a praia com nuvens carregadas e pretas. Olho para todos os lados e percebo que o tempo não irá melhorar nas próximas vinte horas e dois minutos.
- Porque dois minutos?
- Não sei, mas fica bacana e curioso, não fica?
Mesmo assim, eu me sento numa espreguiçadeira colocada somente para mim, na areia da praia esperando o tempo melhorar. Fico, então, a ver navios estacionados na barra daquela praia e permaneço nostálgico e em silêncio. Começo a pensar em tudo que me havia acontecido nos últimos dias. Está na hora de jogar conversa fora.
Lembro-me de ter entrada na sauna do clube de campo da minha cidade e me encontrado com o judeu Carlão. Vá ter a cara de avô-judeu pra lá, meu! E o pior é que ele tem mesmo.
- Como vai você? - ele me perguntou.
Vou muito bem, obrigado. E você? - arrisquei.
Ele me olhou e deu um pequeno sorriso e me respondeu:
- Pela manhã, quando eu me acordei, fiquei muito contente em ter visto o que eu vi, por isso, até agora, estou feliz, muito feliz.
- E o que foi que você viu?
- Mesmo deitado, abri os meus olhos e olhei para a esquerda e não vi ninguém. Depois olhei para a direita e também não vi ninguém. Então, olhei para os meus pés que, naquele momento, estavam completando a posição das minhas duas pernas, esticadas. Não vi ninguém e nenhuma vela acesa. Ou seja, eu ainda estava vivo! Vivinho! Fiquei feliz mesmo.
Caí numa gargalhada para não chorar se tivesse acontecido diferente e ele estivesse morto. Que bom, ele estava vivo.
Engraçado, como as pessoas gostam de contar causos que acabam se transformando em piadas. Acho que faz parte da índole dos brasileiros. Será?
Recebi um número do jornal editado pela minha turma de formatura da ESEFSC-58. Lá estava a estória da garota que não havia meio de conseguir um emprego em alguma empresa. De repente, um restaurante estava contratando valetes - os que guardam ou estacionam os veículos dos fregueses. Ela foi contratada.
De madrugada um freguês saiu do restaurante e pediu àquela garota/valete:
- Celta Negro.
A garota olhou para o céu e disse.
-É verdade, o céu está negro e o senhor vai pegar uma chuvona se sair agora.
-Você não me entendeu. É o Celta negro!
-Claro que eu entendi. Está tão negro que já está começando a chover. Veja só!
O freguês percebeu a ignorância da garota e começou a falar com uma tonalidade bem alta despertando a curiosidade dos que observavam a discussão.
Era um Celta negro pra cá e o céu está negro pra lá, até que o dono do restaurante apareceu e mandou a garota pra casa. Ela estava demitida! Durou pouco tempo naquele emprego.
Que coisa, não é? Não se tratava de alguém alcoolizado. Nada disso. Mas aconteceu, diria o filósofo Epaminondas,o grego.
O Carlão me contou mais uma do humor negro brasileiro. Aliás, por ser um fato brasileiro, tem sempre alguém bêbado na parada. E tinha. Dois!
Saindo de um bar onde tomaram todas, caminhavam cambaleando e tentavam vencer as bitolas dos trilhos de trem, pensando ser degraus de uma escacada e Iam de um lado para o outro só resmungando, até que um deles disse:
- Essa escada é muito cumprida demais e eu não sei se conseguiremos ir até o final dela.
- É verdade! E o pior é que ela é tão comprida e não está encostada em nenhuma parede ou muro. Ela está no chão, deitada, quieta e nós dois com essa dificuldade toda para vencer os seus degraus.
Alguém gritou: - Cuidado com o trem!
Depois de alguns instantes, estavam os dois corpos estendidos nos trilhos do trem. A escada sumiu. Sumiu como(?) se ela nunca existiu! Eis aqui, o mistério da fé nas bebidas para os dois bombados. Morreram sem saber se a culpa foi da escada ou não.Foi da fé!
No mesmo jornal dos meus colegas de formatura estava uma estória para ser lida e pensada em casa.
"A garotinha - não a valete, é claro - de nove anos de idade, comenta com a mãe:
- Mãe, o pintinho do Joãozinho parece um amendoim?
- Porque você está me perguntando isso. Ele é pequenininho?
- Não mãe . . . é bem salgadinho.
Eu estava rindo desses causos quando ouço alguém me perguntar:
- O doutor quer uma caipirinha ou uma cervejinha?
Era o dono da barraca, um bar-man da praia do Gonzaga, em Santos, me oferecendo uma bebida.
Olhei para ele e disse:
- Pena que você não conheceu a garota/valete, nem os dois bêbados nos trilhos do trem e nem o amendoim do Joãozinho.
- Ué, porquê? - ele me perguntou.
- Deixa pra lá - eu lhe respondi e completei - só espero que amanhã de manhã não haja pessoa alguma o lado da minha cama e que nenhuma vela esteja acesa.
O bar-mam da praia sorriu e não entendeu nada do que eu lhe dissera e deve ter pensado: "esse cara já bebeu demais", e foi em direção à sua barraca de bebidas.
Aproveitei e tentei uma soneca. Não deu certo! Minutos depois,assustado, estava todo molhado pela chuva. No entanto, estava feliz em saber que não teria que caminhar sobre os degraus ou bitolas de uma escada plana e interminável. De trem? Pode ser.
Né mesmo?
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