Alguém me ligou.
Pelo menos, o sinal timbrou em meu celular. Atendo e ouço Uma voz escrachada e dando aquela risada ofensiva.
"Tá vendo, eu não lhe falei que ele seria eleito vereador."
É verdade! Eu já sabia de quem era aquela voz e respirei fundo, antes de responder.
"Está contente com isso?", eu lhe perguntei.
"Claro que estou. Eu não falei que o povo não pensa para votar, ou melhor, não sabe votar, como o Pelé um dia falou pra todo mundo ouvir?"
"Você tem razão", concordei.
"Ë tem mais. Se prepare para o vexame que ele irá aprontar na Camara Municipal".
"Você acredita que ele irá dizer o que não deve?"
"Nada disso. Ele vai dizer o que todos nós queremos dizer e não falamos."
"Como?"
Então vem a ladainha de sempre daquele que diz conhecer o sentimento da alma das pessoas., digo dos eleitores.
"É preciso entendermos que nem sempre os nossos representantes parlamentares fazem aquilo que queremos que eles façam ou que gostaríamos que fizessem."
Procurei adentrar nos fatos que esse meu amigo acabou de dizer e fui diretamente, com o meu pensamento, para Brasilia, lembrando que o deputado federal mais elogiado pelo seu trabalho neste ano foi, nada mais e nada menos, do que o palhaço Tiririca.
Resumo da Ópera: um palhaço dominou a Camara dos Deputados. Ou melhor conquistou os seus pares e o todo o povo brasileiro.
O meu Tio Aleardo, brincalhão como sempre, me disse, um dia, que o palhaço consegue agradar crianças e os mais velhos porque diz brincando as grandes verdades que outros não dizem. Ou seja: é brincando que se diz as verdades!
Deve ser o caso do Tiririca que ninguém contesta a sua dedicação aos projetos apresentados no parlamento brasileiro. O homem foi bom mesmo. Com méritos.
Nas eleições, sempre aparecem candidatos sem condições aceitáveis pelo Zé Povão mas ganham o seu lugar. De duas, uma: ou fazem um trabalho sério e respeitável ou afundam no esquecimento de todos.
O meu amigo me perguntou e eu fiquei sem dar a resposta devida:
"Você acha que ele, o eleito, irá se comportar da maneira como faz pelas ruas da cidade, vestindo uma camisa suja e fétida de seu time de futebol, gritando palavrão de baixo calão?"
Será? Pensei.
Se nós, os metidos a besta, não tivemos a coragem de enfrentar tal pessoa nas urnas, como teremos moral para querer criticá-lo ou calar a sua voz? É aqui que mora o perigo para aqueles que ainda não sabem o que significa a democracia de um povo que deve, acima de tudo, respeitar a vontade de cada um, sem ferir, é claro, o direito dos outros. Imediatamente, ocupei em minha mente o lugar daquele candidato eleito. Está claro que eu me prepararia para essa nova missão, sabendo que serei criticado e até vítima dos companheiros parlamentares que não aceitarão, simplesmente, a minha presença nas dependências do parlamento. Foi o que aconteceu com o Tiririca que por vontade própria, tirou esse desprezo de letra.
O palhaço tem os mesmos direitos que nos temos. Só que são palhaços e, por isso, podem e devem dizer o que pensam para ganharem a notoriedade do trabalho que apresentam no seu dia-a-dia. Eles apenas querem fazer à sua maneira e democraticamente, respeitar o direito de todos dizerem o que querem e ouvirem até o que não querem. É o preço da liberdade democrática que tivemos ao escolher os nossos parlamentares.
Disso tudo, nos resta uma lição vinda de Voltaire afirmando poder "não concordar com nenhuma palavra dita, mas que haveria de defender, sempre, o direito de dize-la".
Era mais ou menos assim que ele curtia o seu pensamento. Agora, eu o complemento, por minha conta:
Posso não aceitar um candidato, como o Calixto, como vereador à Câmara Municipal de Rio Claro, mas defenderei sempre, a liberdade que, democraticamente tivemos, em escolhe-lo como um digno representante do povo rio-clarense.
É preciso dizer mais?
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