"Ele vai chegar! Ele vai chegar!"
Foi assim que eu, Epaminondas Dias Martins, retornei da casa dos meus pais, em Santos com a promessa de que ele iria chegar a qualquer dia ou qualquer momento.
O meu pai ainda não conhecia a sede da fazenda onde eu morava com a minha mulher, Linda e meus três filhos, o André, o Antonio e o Paulo. Todos eles girando os sete, oito e nove anos de idade.
"Ele vai chegar mesmo, seu Epaminondas? "- perguntou-me a maravilhosa Leonilza, nossa cozinheira.
"Sim!" - eu lhe respondi e completei -" promessa é dívida e eu acredito nisso. Portanto ele vai chegar".
Aquela mulher saiu gritando para as duas camareiras - na minha casa eu tinha duas delas - e elas ficaram tão contentes com a notícia que resolveram contar para todos que trabalhavam na fazenda.
Alguns não acreditavam no que ouviram e pediram uma confirmação - "você tem a certeza de que ele irá chegar? Aqui na fazenda? Duvido que ele venha sozinho, se vier"
Essa dúvida espalhou-se pelos ares puros daquele local que eu amei desde que comprei, sem a aprovação do meu pai, porque ele não gostou e prometeu que não pisaria por lá por dinheiro algum.
Aquilo me entristeceu, mas aprendi com ele mesmo, que o importante é você fazer o que gosta e não o que os outros gostam ou querem que você goste ou não.
A informação de que ele irá chegar na sede da minha fazenda me deixou louco e alegria. Tentei e consegui passar essa alegria para todos que moravam e trabalhavam no local.
O meu pai tinha mania de manter gatos em sua casa, à beira do mar. Ele dizia que dava sorte porque cada gato que você cuida e alimenta é uma promessa dos deuses de que você irá ganhar alguma coisa em troca. E para ficar mais alinhado com isso, os seus bichanos tinham nomes e apelidos iguais aos membros de sua família. Assim, para diferenciar dos seus netos ele acrescentava o "inho" no final dos seus nomes como Andrezinho, Toninho e Paulinho. Fácil não?
Mas o que importa no momento é que todos naquela fazenda estavam esperando por ele que iria chegar. A maioria desconfiava que na "hora H" ele não viria. Será?
Mesmo assim, os preparativos começaram e a casa virou um reboliço. Todos estavam se preparando para a chegada dele.
"Será que ele virá mesmo?"
Até um bolão entre os empregados foi feito para quem acertasse como ele iria chegar.
Para ilustrar, devo informar que era mania da família gostar e cuidar desses bichinhos. Cachorrinhos, gatinhos e outros domesticáveis eram considerados como membros familiares e passavam a fazer parte do clã do Epaminondas e da Linda que gostavam dos cachorrinhos e os seus filhos gostavam de gatos. Por isso, eles se estimavam e se amavam num completo entendimento, coisa difícil de acontecer, mesmo com a paranóia dos curtidores do facebook que vivem colocando fotos de tais bichinhos enfeitados ou decorados nesse canal social da internet. Que coisa, não?
Numa conversa telefônica, o meu pai contou que ele conseguiu comprar- de traficantes de animais - um casal de pinguins e estava conseguindo que os bichinhos se ambientassem na piscina da sua casa com água salgada e tudo mais. Para tanto, ele colocava, todos os dias, algumas barras de gelo para deixar a água da piscina mais fria, como todo pinguim gosta. Em poucos dias a tentativa da ambientação do casal de pinguíns daria certo, com certeza!
Ao saber da novidade eu contei para a família e para os empregados da fazenda.Um deles me perguntou:
"A gente poderia trazer o casal de pinguim ou um filhote desse casal para a fazenda?"
Eu respondi que isso seria impossível pela aclimatação daqueles bichinhos num local onde a água não é salgada e somente existiria em rios e lagos. Difícil!
"Difícil mas não impossivel"- falou o Toninho.
Eu acreditei, mas ninguém mais acreditava nessa hipótese porque o "velho"não iria concordar. Os bichinhos iriam sofrer. Assim mesmo, todos ainda estavam eufóricos com a chegada dele naquela casa.
"Meu pai nunca veio conhecer essa minha casa"- disse aos que ali estavam. Seria um milagre.
" Ele não virá!" afirmou o seu João, o jardineiro, e continuou - "ele não conhece nada daqui e nem imagina como será viver ou ficar alguns dias com a gente, longe da vida que leva em Santos com o seu clima úmido, etc"
Essas palavras deixou muita gente triste. Será que ele não virá ? - era o pensamento, naquele momento.
E assim estavam todos revestidos da névoa da tristeza quando alguém gritou:
"Ele chegou! Ele chegou! Ele veio mesmo!"
Todos correram em direção à porta da casa e ali estava o meu pai para a surpresa e a alegria de todos. Ele veio, mesmo.
"E o Andrezinho?"- eu lhe perguntei.
"Eis ele aqui!"- e entregou-me algo que estava embrulhado numa toalha úmida e disse:
"Filho, promessa é dívida e eu lhe prometi que iria trazer o Andrezinho para vocês."
E ao desembrulhar da toalha úmida, apareceu um filhote de pinguim. Lindo! Lindo!
Todos vibraram e aplaudiram, gritando: "promessa cumprida!"
Eu fiquei pensando e olhando para o meu pai que me havia afirmado que qualquer dia ele viria conhecer a minha fazenda e traria num bom presente para todos nós.
E, ele fez o que prometera.Seria um milagre?
Nada disso: apenas o cumprimento de uma promessa.
Só isso.
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