terça-feira, 1 de outubro de 2013

UMA LIÇÃO DE VIDA

                                     Aldo Zottarelli Júnior

Estava sentado a frente de uma mesa de pedra, no jardim de uma das casas do bairro de Astória, em Nova Iorque, onde o desenvolvimento é pronunciado com o grande número de edifícios residenciais de luxo que estão sendo construídos. Verdadeiras torres modernas. Praticamente esse bairro fica logo após a travessia do East River, onde o cenário é a vista maravilhosa da ilha de Manhattan, com seus edifícios estupendos e marcantes. Realmente, é o bairro onde a valorização imobiliária é enorme com tendência a aumentar ainda mais.

Mas, aqui estou, sentado e olhando as árvores que me proporcionam uma sombra gostosa e refrescante com suas folhas que, dentro de alguns dias, irão mudar de cor anunciando o inverno forte que se aproxima.
Esfrego os meus olhos como se estivesse com sono, dou um bocejo e ouço um ruído vindo do local onde estão colocadas as latas de lixo. Fixo o meu olhar para aquele local e vejo a cabeça de um bichinho simpático, equilibrando o seu corpo em duas patinhas e fixando o seu olhar para mim.
Inicialmente percebo que essa figurinha é semelhante ao rato só que o seu rabo era grande, peludo e o seu fucinho era redondinho, bem diferente da cabeça bicuda de um rato que normalmente tem o rabo fino como uma cordinha suja.
Devo citar que há ratinhos brancos, bonitinhos e até domésticos servindo de companheirinhos de crianças ou de material de  testes para laboratórios científicos, etc. 
A figurinha que estava a minha frente olhou para um dos lados e gritou "pode aparecer"e imediatamente surgiu mais um esquilo.
- Este é o meu irmão Carl. Eu sou Michel e o nosso território é este jardim. Vivemos aqui alguns anos e somos felizes porque todos deste bairro nos conhecem e nos respeitam.
Arrisquei a conversa:
- Como as pessoas respeitam vocês dois?
- Porque nós não incomodamos as pessoas como os nossos primos cinzentos e sujos que chegam até a prejudicar a saúde de muita gente. Nós, não! Buscamos os nossos alimentos sem prejudicar ninguém e vivemos correndo e saltando pelas árvores, caminhando pelos fios de eletricidade ou arames esticados entre os postes e já salvamos muita gente de acidentes.
- Como? -perguntei.
Carl tomou a palavra:
- Vou dar um exemplo. Na semana passada, uma criança iria atravessar essa rua aí em frente e não viu que um caminhão se aproximava. Fiquei apreensivo porque o caminhão iria atropelar aquela menina. Gritei com todas as forças do meu pulmão e fiquei pulando bastante e derrubei um latão de lixo causando um grande barulho. A menina parou para olhar o que estava acontecendo e não atravessou a rua. O caminhão passou com muita velocidade e o acidente não aconteceu.
- Bacana! - exclamei.
- Bacana? - emendou o Michel - É que você não sabe como o Carl incomoda as donas das casas deste bairro entrando nas cozinhas a procura de amêndoas.
- Amêndoas? Porque amêndoas?
Carl empurrou o Michel para o lado e explicou:
- Amêndoas é o nosso principal alimento no inverno para nos mantermos vivos e com saúde. E o inverno está chegando. Né?
Olhei para os dois esquilos e disse:
- Vocês roubam as cozinhas das casas? Eu pensava que vocês eram honestos e sinceros. Não achava que vocês seriam dois ladrões.
- Não somos ladrões - afirmou Michel- somos bastante honestos e sinceros para afirmar a você que ao pegar algo para matar a nossa fome e nos mantermos vivos, não muda jamais a nossa honestidade e nem a nossa sinceridade.
Carl completou:
- Quem apanha algo para comer e manter-se vivo não está cometendo um ato de furto ou roubo. Está defendendo a própria vida. Isso até Deus perdoa.
- Deus perdoa? - perguntei.
- Claro! O seu Deus é o mesmo para nós. Apenas nos diferenciamos como espécie de animais. - disse Carl.
Não sei porque ouvi um estalo e abri os meus olhos. Não havia esquilo algum na minha frente. Olhei para os lados. Levantei-me da cadeira onde estava sentado e tentei novamente procurar os tais esquilos. Nada. Tudo estava silencioso naquela manhã de outono, naquele jardim, à frente de uma casa no bairro de Astória, em Nova Iorque.
Agradeci a Deus pela lição que me foi ensinada pelos dois bichinhos e fui tomar o meu cafezinho de todas as manhãs.

O autor é educador, escritor e músico.

e mail: aldozottarellijunior@gmail.com


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