Aldo Zottarelli Júnior
- Vai pagar em dinheiro ou no cartão?
Eis a pergunta que se tornou comum entre os habitantes do planeta. Nos quatro cantos, propriamente dito.
De uns tempos para cá, o cartão de crédito assumiu o controle dos nossos bolsos como o computador assumiu controle das nossas vidas.
Antigamente, quem tinha dinheiro no bolso demonstrava poder e sabia gastar muito bem. A frase mais importante dita por todos era "quem tem dinheiro, tem tudo."
Os "partidos altos" eram procurados e escolhidos para se tornarem maridos ou mulheres, em casamentos familiares. Até primos se casavam entre si para evitar a saída do dinheirinho da família.
Que coisa, não?
Os anos foram se passando e o dinheiro, mesmo com o seu valor alto no mercado, enervava qualquer um porque poderia ser perdido, esquecido em algum lugar, ou os bandidos e assaltantes espalhados mandavam a "guasca". Não perdoavam e continuam não perdoando:" - Me dá o seu dinheiro aqui, agora!"
Quem não atender a tal pedido, feito com a maior singeleza, vai para "cucuia". E vai mesmo!
O cartão de crédito veio para aliviar esse tipo de preocupação das pessoas em andar com dinheiro no bolso.
- Só levo o que preciso e nada mais do que isso?
Muitos falam assim . Como saber o que cada um precisa para levar o seu rico dinheirinho nos bolsos ou bolsas?
Pergunte ao Nostradamus, seria a resposta correta.
Eu conheci o Nostradamus. Era um senhor de idade bem avançada e demonstrava isso nas incontáveis rugas no seu rosto. Ele gostava de contar os mistérios da vida, como um filósofo e era gostoso ouvi-lo explicando o inexplicável, recheando as suas estórias com gargalhadas profundas. Dizia ele sobre o dinheiro e o cartão de crédito.
- Sou muito feliz por não ter dinheiro no bolso e há gente que tem e não é feliz como eu - dizia Nostradamus.
- Como isso pode acontecer? - perguntei
- Eu ando somente com cartão de crédito.
E lá vinha a gargalhada de sempre acompanhando a resposta.
Era mais uma lição de vida.
Passei a adotar essa postura de sair e andar somente com cartão de crédito e pouquíssimo " réis" nos meus bolsos. Deu certo, porque não tendo dinheiro nas mãos, você não gasta tanto. É a regra básica explícita na Teoria da Marginalidade da Micro-economia : "quanto mais se tem, mais se gasta".
Agora com os tais cartões de crédito a coisa ficou mais segura e econômica. Em todos os cantos, encontramos a publicidade desses cartões. Há cartão para tudo. Dos bancos, dos supermercados, das farmácias, dos clubes, das escolas, dos salões de beleza, dos ônibus, do Metrô, do bar da esquina, do ponto de Táxis, da Previdência Social, dos Hospitais, dos governos - federal, estadual e municipal - dos casados, dos solteiros, dos fofoqueiros, dos gays, dos cornos e outros menos votados. Provavelmente irá existir o cartão do inferno, do Céu e do purgatório, ficando para quem quiser escolher e pagar.
O desenvolvimento da humanidade caminha rapidamente e não sabemos até onde.
Os otimistas esperam por um mundo melhor e diferente daquele do Aldous Huxley, que ao escrever o seu "Admirável Mundo Novo", mostrou uma visão pessimista da sociedade tecnológica futura onde tudo seria obedecido às regras e os viventes espionados e acompanhados por uma central governante sujeitando todos à submissão e ao enquadramento, ou seja; cada um no seu quadrado! Corretamente, a obra de Huxley deveria ser chamada de O Abominável Mundo Novo.
Percebo, no entanto, que agora, o mundo está ligado direto ao domínio do plástico e do papel.
O dinheiro de plástico ao ganhar do papel está reinando com força total, sendo possível que, através dele, iremos alcançar algo que nunca imaginamos. A Terra se tornará um globo plastificado.
Entretanto, não podemos nos esquecer que teremos uma única obrigação a cumprir para não perdermos o fio da meada de continuarmos honestos e, com isso, nos afastarmos do artigo 171 do Código Penal brasileiro que enquadra quem deixar de pagar tudo que acumulou como débito, no vencimento mensal do cartão de crédito.
- Tudinho? - perguntei a mim mesmo.
- Claro - afirmou uma voz gritante e idêntica a do Nostradamus
Em seguida, ouvi a sua gargalhada moral. Ou seria . . .mortal?
O autor é educador, escritor e músico.
e mail: aldozottarellijunior@gmail.com
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