domingo, 22 de janeiro de 2017

O VELÓRIO IRÁ COMPROVAR

E lá ele se foi.
Dizem que eu seria um cara interessante e tinha sempre uma saída para qualquer caso fosse ele sobre esporte, política, amor e outras versões. Gostava de opinar sobre todos os assuntos e levava comigo o adjetivo próprio para testemunhar sobre qualquer coisa. Interessante!

Outra vez, reunidos em dois bancos de cimento no jardim,  alguém encontrou algo diferente para opinar sobre o assunto em pauta.
- Coitado do Ambrósio. Ele morreu, mesmo? 
- Claro que morreu! - afirmou o Lalo.
- Eu não posso acreditar - disse o outro.
- Eu estive no velório e vi com esses meus olhos que a terra deverá de comer. Estava la, dentro do caixão e não respirava, mesmo.
Eram assim as pitadas daquele que se foi.  Não o que morreu mas o que gostava de opinar sempre diferente dos outros.
As observações eram sempre as mesmas naquele grupo onde um falava e os outros ouviam. Podiam não chegar a um consenço mas sempre havia um final ( meio) compatível com a opinião de todos.
Acredito que nas cidades interioranas, ou melhor, num jardim de qualquer cidade de interior, exista um grupeto comentando os assuntos do dia, desde a vitória do timão ao falecimento de alguma pessoa importante.
Assim falamos, comentamos, encerramos e vamos embora.
O Carneiro era firme e sempre encerrava qualquer assunto. Também pudera, o homem é bacharel em direito e tem pos-graduação feita na USP.(!) Ninguém discutia suas opiniões. Poderíamos não concordar, mas ficávamos quietos observando até onde o assunto iria acabar.
Depois era só passarmos para outro caso.
Ao se assustar com a morte do Ambrósio, ele, o Carneiro, comentou que tudo era besteira. Ambrósio estava vivo e pronto!
Como afirmar que alguém estava vivo se um colega da rodinha acaba de afirmar que tinha ido ao velório e viu o corpo do falecido.
- Poderia ser de um outro cara - disse Carneiro.
- Que nada. Era o Ambrósio, mesmo.
E assim os dois ficaram alguns minutos se testando se o corpo do morto era o de Ambrósio, até que o Talarico, abriu o seu vozerão de locutor de rádio e quebrou a discussão:
- Vamos parar por aqui. Se você viu o corpo do Ambrósio morto e dentro do caixão e você afirma que não era ele, então - apontando para o Lalo disse: você fica com o morto e você, meu querido doutor pós graduado fica com o vivo. Tá? 
Todos daquele grupo se entre olharam e deram uma risada.
Como pode alguém comentar a morte de um morto com a via de um vivo?
Fiquei em dúvidas e afirmei que dali eu iria até o velório para comprovar a morte ou a vida do Ambrózio.
Justamente eu que não gosto desse tipo de papo resolvi tomar uma atitude. Séria. Real!
Despedi-me de todos e segui em passos largos rumo ao Velório.
- E lá ele se foi. - foi o que eu ouvi.
Quem? Eu?
Pois é! 

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