sábado, 14 de junho de 2014

OS GÊMEOS DE MARY

Aldo Zottarelli Júnior

Estou sentado no pequeno e gostoso jardim de uma residência, no coração do Queens, em Nova York, lendo as notícias publicadas nos jornais do dia quando ouço alguém me chamando:
- Aldo! Você por aqui outra vez?

Confesso que aquilo me assustou porque não havia viva alma nas imediações de onde eu estava. Seria uma voz do outro mundo?
Procurei não me importar com o som que havia escutado e me afundei novamente na leitura dos jornais.
- O que é isso, companheiro? Não se lembra de mim?
Êpa, a coisa agora complicou porque a voz insistia em se manifestar como se eu a conhecesse. Procurei novamente de onde ela havia saído e vejo um movimento num dos galhos da árvore toda verde à minha frente. Fixei o meu olhar no local onde havia alguma coisa estranha. 
De repente, matei a charada e exclamei;
- É você Fred?
Ouvi um risadinha e a resposta veio imediatamente.
- Agora você está lembrado de mim, não é? 
E surge na minha frente aquele esquilo cinzento olhando para mim.
- É o Fred, não é? - perguntei.
- Não sou o Fred. Sou a Mary, esposa do Fred.
Me desculpei e me sentindo em casa, perguntei:
- E o Fred, onde ele está? Aliás, eu estava com saudades de vocês.
- Nós também estávamos com saudades de você. O meu cara metade foi para o seu país. - contou-me a Mary.
- Brasil?
- Sim, foi para o Brasil. É bastante longe, mas ele me disse que iria se esconder numa bagagem qualquer no vôo da American para São Paulo.
Fiquei imaginando aquele esquilo maluco procurando uma brechinha para se esconder entre as malas do avião. Deve ter sido um trabalho cansativo. Mas, aí me lembrei do Fred e sei que para ele tudo é possível.
- Porque ele foi para o Brasil?
- Não pense que ele foi lá para ver você. Nada disso.
- Claro! Claro! Então o que ele foi fazer no Brasil.
- Você ainda não percebeu como estou diferente?
Olhei para Mary e respondi:
- Você está mais gorda e me parece mais escurinha.
Mary deu uma gargalhada e me explicou:
- Estou mais escurinha porque nós, da família dos esquilos, ficamos assim quando nos engravidamos. Deu pra perceber a minha barriga mais saliente?
Olhei novamente para aquela criatura e sorri.
- Parabéns Mary. Quando virá o bebê?
- Que bebê? São dois bebês.
- Verdade? Mas me disseram que uma esquila só dá a luz um bebê por vez.
- Você esqueceu que eu sou a Mary? A Mary do Fred? Com a gente tudo é diferente.
Roberto Carlos fez alguma canção que dizia algo parecido e concluia "você vai aprender a ser gente". Mas ali o caso era outro porque se tratava de um casal de esquilos amigos e acima de tudo ... gente!
- Já sei! O Fred foi me procurar para ser padrinho dos esquilinhos que irão nascer? 
- Errou! Ele foi assistir aos jogos da Copa do Mundo de Futebol.
Dei uma gargalhada sonora e perguntei:
- Foi ver futebol?
- Sim. Nós sempre gostamos do futebol e essa era a oportunidade dele assistir os melhores jogadores do mundo se exibindo nos estádios brasileiros.
- E você ficou aqui sozinha, nessa árvore de sempre?
- Não quisemos arriscar a minha gravidez e eu fiquei por aqui.
Pensei naquela resposta e disse:
- Você continua como sempre foi cuidadosa e carinhosa, né?
Mary olhou para os meus olhos e permaneceu em pé e me respondeu:
- Você não mudou nada. O irreverente de sempre.
Em seguida ela me informou que iria embora porque estava na hora de fazer os exercícios pré parto indicados pela sua médica e me disse adeus.
Eu fiquei vendo aquela esquila gorda se movimentando com certa dificuldade em virtude da sua gravidez e sorri.
Em seguida, fechei os meus olhos e pedi à Nossa Senhora do Bom Parto que proporcionasse um momento feliz para a Mary receber os seus tão esperados gêmeos que, segundo ela, ganhariam os nomes Aldinho e Júnior. 
Ótimo!

O autor é educador, escritor e músico
e mail: aldozottarellijunior@gmail.com
     


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