Tem gente que gosta, mas eu não gosto de falar de assombrações, ditames espíritas ou coisas do outro mundo que desembarcam e costumam florescer entre nós.
Feitas tais considerações, devo contar a estória - sem "h"- que o Constantino me contou ontem, pela manhã, sentados num dos bancos de madeira de um dos jardins da minha cidade.
- Pois é - ele disse - na última semana, ao acompanhar o enterro de um cidadão bastante conhecido, ouvi um comentário que me deixou perplexo.
- Perplexo é forte demais - interrompi.
- Que nada, meu.
E ele me contou que um notório cidadão havia narrado à outra pessoa, que também acompanhava aquele sepultamento, sobre algo que ele leu numa revista que costuma publicar contos do outro mundo. Assim, ele explicou:
Numa cidade pequena de um país africano, havia dois meninos que cursavam o básico do projeto educacional e que não se largavam um minuto sequer um do outro. Onde estava um, estava o outro também. O que um fazia, outro fazia também. Não eram gemeos mas haviam nascido no mesmo dia e na mesma hora. O local, ou seja, as maternidades eram outras e as mães, também eram outras.
Cresceram com essa "coisa"de pensar e agir como se fossem uma única pessoa. Até as dores de barriga eram idênticas e ocorriam no mesmo instante, estivessem eles em locais distantes, um do outro.
Os anos se passaram e isso sempre continuou a existir.
- Só falta um morrer e o outro embarcar no mesmo dia e hora. - afirmava alguém que se aproximou para ouvir o que o Constantino falava.
O engraçado disso tudo, se é que posso definir como engraçado, é que os dois personagens não se conheciam.
"Será que é uma nova edição do boneco de barro que o Mestre estava experimentando neste mundo louco?"
Bem, continuei ouvindo aquela narrativa.
Homens feitos e casados, suas mulheres ficaram grávidas. Cada uma na sua cidade. E as duas famílias moravam em lugares distantes. Uma, naquela cidade africana, e a outra no nordeste brasileiro. As duas gestantes deram a luz, no mesmo dia e na mesma hora: dois meninos, um para cada uma. Que coisa, meu!
Com o passar dos anos, os homens ficaram mais idosos e cuidaram, cada um à sua maneira, dos rebentos que já eram universitários e estavam em cursos idênticos, e assim, ambos seriam médicos, em pouco tempo, com certeza.
O universitário da Faculdade de Medicina do Ceará se inscreveu no movimento "Médicos sem Fronteiras" e foi designado para servir numa pequena cidade africana. Não era a tal cidade onde se iniciou essa estória. Nada disso. Era uma espécie de tribo bem no centro da Africa. Ali, no centrinho.
Depois de alguns dias servindo à saúde daqueles pobres tribais africanos, o futuro médico sentiu-se mal e foi encaminhado para uma cidade distante daquela tribo, para ser atendido e tratado, porque a coisa parecia ser grave.
Já internado na UTI do hospital recebeu a visita do médico de plantão. Adivinhem quem era esse plantonista?
Erraram! Não era quem vocês pensaram, porque esse outro médico
também estava internado num outro hospital, com os sintomas semelhantes ao do citado companheiro de profissão.
Apesar de estarem internados nas UTIs de hospitais diferentes, e sem que tivesse sido descoberta a causa das doença semelhantes que ambos haviam contraídos, eles permaneceram num "coma" induzido até que, num dia e na mesma hora, os dois jovens profissionais da saúde partiram juntos para o andar superior.
Os seus pais, logo após serem avisados sobre a morte de seus filhos caíram "durinhos" e sem vida. Foram em busca dos dois filhos.
Agora, o importante: tudo no mesmo dia e na mesma hora.
- Como explicar isso? perguntou Constantino.
Ninguém respondeu. Nem eu!
Ficamos em silêncio.
O autor é educador, escritor e músico
e mail: aldozottarellijunior@gmail.com
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