Aldo Zottarelli Júnior
- Como é mesmo o seu nome? - perguntei à aquela figura magérrima e sem expressão.
- Úrsulo.
Que coisa. Jamais pensei que um dia apareceria o masculino de Úrsula, nome tão bonito e que nos dá a impressão de ser uma mulher linda e agradável. Que nada! Ali estava o Úrsulo que, por ser tão magro, ele deveria ficar sempre de frente e nunca de lado porque dará a impressão de que ele já se foi, Será?
- Você não conhece o Úrsulo e por isso não sabe como ele conhece a dança dos nomes e apelidos existentes na língua portuguesa.
Fiquei olhando para aquela figura tão insignificante e perguntei.
- É verdade isso que o Carlos disse?
- Posso garantir que conheço bastante os nomes e apelidos existentes na língua portuguesa.
Depois dessa afirmação, ficamos trocando palavras e idéias e comecei a gostar daquele cidadão que a
cada minuto demonstrava ser muito educado, conhecedor de nomes e apelidos e o papo ficou mais gostoso.
- Porque você não adotou o apelido de Urso para substituir esse desconhecido Úrsulo.
Ele sorriu e me respondeu:
- Já pensou, eu com esse corpinho pequeno e magro, alguém me chamaria de Urso?
Ele tinha razão.
Ficamos horas conversando e descobrindo casos e causos do folclore brasileiro. De repente, ele me perguntou se eu conhecia algum apelido depreciativo à alguma pessoa.
Respondi apontando uns vinte apelidos.
- Você conhece muitos mas não explicou ainda qual apelido, além de depreciativo, é o mais mentiroso da história.
- Qual é?
- Môr!
- Como Môr. O que é isso?
Úrsulo me contou que é comum entre duas pessoas que se amam e vivem juntas, uma chamar a outra de amor. Depois de um certo tempo de convivência, o amor é substituido pelo môr.
É verdade, pensei. Lembrei-me de vários casais que eu conheço e que tem a mania de usar o môr como apelido. É estranho, mas engraçado. A coisa fica pior ainda quando o casal quer demonstrar um relacionamento afetuoso para impressionar quem está vendo e ouvindo o papo entre eles.
- É de estarrecer tanta falsidade - afirmou Úrsulo.
- Há remédio para isso?, perguntei.
- Se há remédio, eu não sei, mas posso contar uma história envolvendo um casal que usava apelidos afetuosos durante as suas conversas.
- Por favor. Conte!
Daí ele me narrou a seguinte estória: um amigo convidou um casal para um café da manhã no dia tal, data em que ele e a sua mulher completariam quarenta anos de união.
No dia marcado, o casal amigo já estava sentado na copa da casa dos aniversariantes, quando o marido chama a mulher que está na cozinha preparando o café.
- Mor! Traga para nós esse café gostoso que so você sabe fazer.
- Aqui está mor, respondeu a mulher que voltou à cozinha para preparar os acompanhamentos do café gostoso.
- Môr, traga aqueles biscoitinhos deliciosos que você fez.
A mulher atendeu ao pedido. Depois voltou para a cozinha.
- Môr! Querida do meu coração, traga a manteiga e os pãezinhos. Queremos aprecia-los.
O homem do casal de convidados perguntou:
- Quanto anos de casados vocês comemoram hoje?
- Quarenta!
- E você ainda chama a sua mulher de amor, môr, e querida?
- Claro! Faz dez anos que eu esqueci do nome dela, ô meu!
Úrsulo deu uma gargalhada e eu o acompanhei.
- Já pensou se não existissem os apelidos carinhosos, como aquele casal se comportaria?
Carlos entrou na conversa me lembrando que foi ele, o Úrsulo, quem inventou a expressão: "melhor que isso, só dois disso."
Você sabia? Pois é!
O autor é educador, escritor e músico.
e mail: aldozottarellijunior@gmail.com
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