Quando aquela mãe sentiu que o bebê já havia nascido, ouviu alguém, naquela sala de partos da maternidade, a falar em tom alto que o garoto era muito bonito e, apesar de receber duas palmadas do cirurgião, continuava mais mudo do que nunca.
Todos ficaram surpresos com o silêncio do recém-nascido.
- Custou um pouco mas valeu a pena - disse o cirurgião.
Após o primeiro grito. outros mais vieram para avisar que o novo vivente não estava muito contente com o ambiente.
- Venha para o nosso mundo, o seu mundo - disse a mãe.
De repente a criança parou de chorar e adormeceu.
- O que dizer disso? - exclamou o pai afobado que havia acompanhado o nascimento do seu filho.
- Nada! Pode ficar tranquilo - informou o médico e completou - é muito comum uma criança recém-nascida não querer opinar sobre o seu nascimento e partir para um bom sono, o primeiro de uma série que ele aprenderá a curtir com o seu viver diário.
- É bem possível que essa criança adote o "eu não quero "daqui em diante - aflorou a mãe.
- É possível! - todos concordaram.
E não é que o Roberto, mais tarde apelidado de Bob, viesse a ter na expressão do " eu não quero" a sua identidade pessoal.
Cresceu assim, e para toda conversa em que era consultado a sua resposta vinha rasteiramente negativa, e ao ser perguntado sobre a sua posição pessoal ele dizia "eu não quero".
Passou a ter o apelido do "não quero" para todo e qualquer assunto em que era consultado. Ridículo, mas verdadeiro.
Na escola, os seus professores deixaram de perguntar oralmente sobre a matéria educacional ensinada porque a resposta era sempre a mesma "eu não quero".
Ele não se importava com o que pensavam dele, porque as provas a que era submetido alcançavam as maiores notas da classe. Incrível. Ao ser indagado se ele gostaria de expressar verbalmente a maneira em que havia respondido por escrito, a reposta era sempre a mesma; "Eu não quero responder. Já fiz por escrito e chega!"
Que coisa. não é? Pois é!
Os anos foram se passando e Bob continuava como o melhor aluno da classe e mais tarde como melhor profissional das empresas em que era admitido. Todos já sabiam. Podiam conversar com ele sobre qualquer assunto, mas não levasse ele a explicar o seu ponto de vista porque a resposta era sempre a mesma: "Eu não quero".
Casou-se e foi pai de dois meninos.
Cresceram tão inteligentes como o papai e jamais eram submetidos a qualquer pergunta porque ja se sabia que a resposta era comumente negativa e vinha de pronto.
Os anos se passaram e ele sentiu-se satisfeito com os casamentos dos dois filhos e admiráveis jovens profissionais como eram considerados, principalmente, como seus dois grandes orgulhos. Mas ninguém tentava a qualquer momento perguntar se ele queria ou não, pelo menos uma vez na vida, responder se gostaria de falar sobre qualquer assunto.
Os jovens tornaram-se pais e Bob e Helena - este era o nome de sua esposa - tornaram-se avós.
Não foi fácil explicar aos netos porque é que o vovô Bob não gostava ou não queria falar sobre qualquer assunto que deveria ter a sua consideração pessoal. Esse trabalho foi ficando cada vez mais difícil até que alguns anos depois ele jazia num caixão funerário e todos comentavam a teimosia dele de jamais ter querido opinar sobre alguma coisa que lhe perguntavam ou lhe ofereciam.
O cenário estava triste quando um de seus netos aproximou-se do caixão do avô e confidenciou em um dos ouvidos do falecido e pediu-lhe se ele poderia levar aos anjos do Céu alguma pergunta do Criador sobre se ele havia gostado de ter criado a sua família com amor, dedicação e amor.
Nos lábios de Bob percebeu-se um pequeno sorriso. Todos entenderam que a resposta dada a Deus seria:
"Eu não quero!"
Até naquele momento, Bob manteve a sua personalidade. E como!
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