segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

NÚMEROS, SENHAS E CÓDIGOS.

Aldo Zottarelli Júnior

Devo estar sonhando acordado ou a coisa se desgringolou de uma vez por todas.
Cansei de ficar entre os que não são, do que estar entre aqueles que também não estão. Deu pra entender? Ou seja, estou ficando cada dia mais louco com os números e senhas jogadas ao vento e que comandam a vida de cada um de nós. Vou dar um exemplo, narrando a conversa de dois "caras", que presenciei num lugar qualquer.
- Bom dia, 0089!
- Bom dia, 154! Como vai a sua 9998?
- Muito bem, graças ao Onipotente.
- Beleza, meu!
- Você leu o jornal de hoje?
- Li e fiquei impressionado com a crítica pessoal sobre o PM 15.
- Pois é!  E na Câmara de Vereadores a posição tomada pelo V 09 foi impressionante, não foi?
- Claro que foi.
E assim, os dois amigos conversaram, citando números e letras como se o mundo tivesse transformado os seus habitantes nessas peças numéricas. Eu explico.
Nos últimos anos deixamos de ser pessoas e passamos a ser apenas números seguidos de senhas. São tantos aqueles que me representam, que eu tentei colocá-los numa folha de papel para não esquecer, e acabei escrevendo um pequeno livro. Todas as páginas e frases continham números, senhas ou siglas. Pois é.
Hoje, temos o registro dos nossos números e letras no CIC, RG, CNH, Carteira de trabalho, sindicato, escola, universidade, seguro saúde, UNIMED e outras "meds", SUS, Registro na PREVIDÊNCIA SOCIAL, carteira de idoso e de não idoso, carteira de deficiente e de não deficiente, comprovante de residência, telefone fico, telefone celular, PIN, SIC, PIS, PASEP, SOCIAL CARD, Carteirinha de clube,protocolo da NET, da SKY, ramal telefônico, computador, impressora, programas com as senhas respectivas, e muito mais, volante da Loteria Esportiva, placa de automóvel ou caminhão,passagem numerada de ônibus, de avião, de navio de barquinho, e do "raio que o parta",etc, etc, etc. 
Tudo está uma loucura e aumentando cada vez mais, essa parafernália denominada Terra. Até quando? 
Agora estão chegando a uma conclusão estupenda: um único número ou registro para tudo. Será uma espécie de identificação numa única Carteira Universal, que se for transformado em abreviatura, irá ficar mal.Ou não?
Se nos deslocarmos para outros países vamos ver que o mesmo está acontecendo por lá. Maldita hora em que inventaram os números ou senhas. Estou perdido e sem ajuda. Vou demonstrar.
Resolvo voltar para casa levando dentro de mim o conteúdo da conversa daqueles dois "caras", e comecei a ficar nervoso porque teria que pegar no meu bolso a chave apelidada de "inteligente" e que abriria a porta da entrada. Percebi que havia esquecido da senha.  "Tô na rua!"- pensei.
Espera! Lembrei-me da senha e acionei a chave ïnteligente". Bacana, a porta se abriu. Ótimo.
Vou até a cozinha e tento ligar a minha moderna cafeteira  para preparar um "capuccino" e ela me pede a senha.
 Tudo bem, dessa senha eu me lembro. Sou viciado nessa bebida.
Entro no meu estimado "Home Theather" e ligo a TV. Ela me pede a senha. Ainda me lembro e digitei. Muito bom. Vou assistir algum programa. Pô, só tem novelas e mais novelas. Vou para DVD.Outra senha me é pedido e eu me esqueci ! Depois de algumas tentativas, acerto a certa. 
Mais tarde, estou diante do meu computador. Meu Deus! Desafio de todas as espécies, e para lembrar das senhas e códigos que aquele aparelho exige, acabo acertando uma delas. 
Mais tarde me deito e vou programar o despertador. Nova senha! Ainda bem que esta eu anotei no proprio despertador.
A verdade é que as senhas, os códigos e os números são como o ar e a água para nos mantermos vivos, e não temos qualquer liberdade ou opção se esquecermos, porque se isso acontecer, estaremos fritos. . . principalmente se não soubermos a senha para apagar o fogão ou desligar a frigideira.
Os números estão aí. 
- Escolham os seus números. Façam os seus jogos, senhores! Esta seria a determinação ouvida. 
Para se fazer um jogo é preciso escolher os números ou letras e apontarmos ao bookmaker que, sorrindo, entende que todos dependemos dele para realizarmos os nossos sonhos. E daí, sentimos que na vida atual, as senhas, os códigos e os números serão as nossas armas ou escudos para continuarmos a viver num mundo complexo, dopado, sem perspectiva e viciado em tudo. Não é? Pois é.
Vacine-se ou entregue-se. A escolha é sua.
Antes, porém, será obrigatório você indicar o seu número ou a sua senha quando você morrer e tentar um lugar no Céu. Para entrar no Paraíso exige-se essa identificação. Se você não tiver ou se esqueceu de tal documento, será enviado imediatamente para o inferno. Lá a bagunça é tanta, e nada é exigido. Um perfeito carnaval,como todo brasileiro gosta. Ou se tiver sorte, será o que Deus quiser. Se é o que Ele quer.

O autor é educador, escritor e músico
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