terça-feira, 7 de janeiro de 2014

O QUARTO AZUL

                                                    Aldo Zottarelli Junior

Aqui estamos nós.
Você queria que tudo terminasse de maneira simples e que deixássemos aos outros  a oportunidade de saberem porque escolhemos este final.
Lembro-me que a idéia nasceu de um conto de Fiódor Dostoievski onde alguém, com ciúme doentio da sua amada, resolveu buscar na fria cor azul a pintura do fim das suas  vidas.
Interessante. Parece que a mesma coisa esta acontecendo com você e comigo, neste instante.
Prometi a você que eu também pintaria todo o nosso quarto de azul e tudo mais que estaria disposto em moveis, cama, cadeiras, paredes, forro e chão. Assim foi feito e você gostou. Lembra? 
Não! Você não pode me dizer agora se gostou porque, há alguns minutos, a sua respiração acabou e o seu corpo permaneceu deitado, quieto e sem vida, aqui ao meu lado. 
Igual a nossa cama e lençóis, você está vestida de azul.
Apenas o seu rosto, seus braços e os seus pés não eram azuis. Foi então que tive a idéia de pinta-los de azul, depois da sua partida. Assim, tudo ao nosso redor, neste nosso quarto, ficou completamente azul.
Fechei os meus olhos e tentei lembrar o que havia acontecido com o nosso amor que começou quando estávamos no colégio. Foi tudo bonito. De lá para cá juramos um amor infinito e mantivemos a nossa fidelidade autêntica, sem qualquer deslize e nem traições. Sempre fomos assim, dois apaixonados que juraram manter essa paixão para sempre. 
Não tivemos filhos porque isso não estava escrito em nossas vidas. Mas o amor que sentimos um pelo outro jamais houve outro igual neste mundo.
Quando, em seu leito do hospital, o médico nos disse que o seu caso seria difícil de apresentar qualquer cura e que teríamos de orar na busca de um milagre impossível, resolvemos voltar para este quarto só nosso e ficamos na espera do milagre impossível  prometendo mudar para a outra vida juntos e nos amando cada vez mais.
Sinto que você já partiu e deve estar me esperando.
A droga que apliquei no meu braço esquerdo também tinha a cor azulada como todo o meu corpo também pintado da mesma cor.
Começo a sentir uma pequena dificuldade para respirar porque a droga começou a fazer o efeito em mim.
Viro-me para o seu lado e olho para o seu rosto, quieto, azul e sorrio. Em poucos instantes estarei com você e juntos caminharemos para o infinito azul de nós dois.
O último movimento do meu braço direito foi para abraça-la. Talvez o nosso último abraço.
Não sinto mais as minhas pernas e nem os meus braços. Somente a minha respiração ainda demonstra a existência de alguma vida na cama. Porem, com dificuldades, tento respirar fundo e percebo que não vou conseguir. . . 
Foi o meu último suspiro. 

O autor é educador, escritor músico.
e mail: aldozottarellijunior@gmail.com

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