quinta-feira, 5 de setembro de 2013

FUGAS

                                                                                                         Aldo Zottarelli Junior
"Não sei porque eu insisto tanto em te querer"
Aí está a primeira frase da letra de uma música que todo mundo conhece e concorda com o autor. Quem foi que até hoje não insistiu em alguma coisa sem saber o porque. Não é mesmo? Coisas da vida diriam os incautos. Nada disso. É teimosia mesmo. Eu vou mais além: ao perceber que não vai dar certo, o gaiato se arrancas e parte para outro caso. É a famosa fuga construtiva.
O que é isso? Fuga construtiva? Existe outro tipo de fuga?
Explico. A fuga sempre existiu desde o momento em que Deus construiu essa coisa complicada que ele denominou de "mundo". Antes era Éden. Lembram-se?
A primeira fuga teve um formato destrutivo porque nasceu de uma traição. Os empregados, Adão e Eva, enganaram o patrão, Deus, e foram espinafrados para a rua na busca de um outro mundo. Para o Criador foi uma punição e para os punidos foi a grande oportunidade de fuga daquele paraíso, que de paraíso não tinha nada. Parece que era o que os dois retirantes falavam. Para quem? Não sei.
Tudo aconteceu porque eles teriam que trabalhar oito horas/dia, sem direito a horas extras e com o suor do rosto do Adão. E o da Eva?  Bem, esta deveria ficar em casa como doméstica, cozinhando, limpando os aposentos do casal, costurando ( O quê?  Eles andavam nus!) e com os afazeres de mãe para cuidar de dois rebentos bíblicos.  Pois é. Deu no que deu. Um deles fez presunto do outro.
Citei duas espécies de fuga - a construtiva e a destrutiva.
Ou seja, para existir uma fuga há a necessidade de um motivo qualquer, justo ou não, para o seu surgimento. Assim, entre a fuga construtiva e a destrutiva há inúmeras outras.
A fuga de um condenado do local onde estava preso é  considerada construtiva porque o fugitivo está cogitando construir um novo futuro ou uma nova vida fora da cela. Já, para a segurança da prisão a fuga foi destrutiva porque mostrou falha no processo prisional adotado.
Desde os nossos primeiros passos vivemos sempre fugindo de alguma coisa ou buscando, através de fugas, conquistar outras.
Exemplos de fuga destrutiva, ou seja aquela que destrói alguém: fugir da escola, fugir do inimigo, fugir da "porrada"de um desafiante, fugir dos pais, fugir da família, do namorado, do marido, do amante, do cachorro raivoso, do cocô das pombinhas na cabeça, das aranhas, cobras, jacarés, tubarão, patrão, polícia, e de todos que podem complicar qualquer um. O melhor é destruir, imediatamente, a relação inoportuna e causadora da vontade de fugir e partir para qualquer lugar para tentar a conquista de coisas diferentes. Mas, há fugas impossíveis como a da. . . morte!
Não conheço ninguém que tenha conseguido fugir da morte. Quem conhece, diga agora ou cale-se para sempre, Claro, morto não fala!. Eis aqui uma fuga difícil de ser narrada ou explicada porque ela simplesmente não existe. Ou existe? Vou repetir. Quem souber levante a mão e saia do caixão.
Fugas construtivas aparecem quando alguém se beneficia de algo que era impossível de ser alcançado, como receber de um devedor uma dívida considerada perdida. Repito: extremamente per-di-da!
Há outras fugas construtivas no caminhar da vida de qualquer pessoa.
Viver sozinho pode proporcionar uma espécie de fuga construtiva, se o ermitão continuar procurando a sua felicidade… sem ninguém para encher o saco. Lembram-se de Confúcio,  que dizia "antes só do que mal acompanhado". Acho que foi ele que falou  isso. Não foi, não? Então estou  confuso.
Molhar o jardim da casa e conversar com as flores é uma espécie de fuga construtiva, principalmente, para as senhoras idosas ou não, sem usar o suor do rosto. Isso é para o Adão e não para a Eva, dizia a Bíblia.
Ouvir uma emissora de rádio para esquecer dos problemas do cotidiano e ficar por dentro daquilo que estava por fora(?) O que é isso? Vou contar pra todo mundo o que a rádio '"falou".
Ver novelas na TV também é uma espécie de fuga construtiva marcante, porque os problemas que aparecem pertencem aos personagens e não para quem os assiste.
Pode se incluir nessa espécie de fuga as notícias policiais, políticas e outras que não causam exercícios fundamentais na mente para compreende-las. Caso contrário a fuga pode adquirir o roupagem de destrutiva. E como!
Eis que, se não quando, aparece o compartilhamento da fuga construtiva com a fuga destrutiva.
Exemplo: numa mesa de refeição, pais e filhos, cada um está com o seu celular ligado e todos desligados entre si. Não se falam e nem se olham. Ficam atentos na telinha dos aparelhos que, infelizmente, nasceram muitos anos depois que Graham Bell inventou o telefone. A busca de não querer se comprometer com algum problema - fuga construtiva - desperta também a destruição da comunicação entre eles - fuga destrutiva. Somente se comunicam através do celular. Êta família moderna e mal educada e como dizem os baianos . . . porreta!
Há inúmeros outros exemplos de fugas, porém a principal e de domínio de qualquer cidadão é a fuga da responsabilidade, que é a que eu irei fazer agora.
"Não sei porque eu insisto tanto em. . ." Bem, empreendi uma fuga. Tchau! Fui!

O autor é educador, escritor e músico
e mail: aldozottarellijunior@gmail.com

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