A missa das nove de um domingo havia terminado na igreja matriz de São João Baptista de Rio Claro. Naquele instante, o gaguinho Sebastião, conhecido e querido mordomo da igreja, trancava as janelas e as portas enquanto algumas crianças esperavam o comando dos instrutores para serem preparadas e iniciadas à uma futura primeira comunhão, duas semanas depois.
As meninas eram orientadas por uma senhora e os meninos, incluindo a minha pessoa, eram iniciados por um religioso.
Lembro-me de estudarmos os mandamentos da Lei de Deus e da Igreja católica, onde os nossos orientadores repetiram que jamais deveríamos elevarmos em vão o nome do Pai. E aquilo ficou para sempre na minha "cachola".
Durante toda a minha vida acabei ouvindo estórias sobre Deus e, por isso, deixei de obedecer cegamente a instrução da primeira comunhão aprendida na igreja, após a missa das nove.
Concentrei-me, com o tempo, nas mensagens religiosas que me eram ditas diariamente e, por isso mesmo, eu vou contar uma delas que classifiquei como educativa e oportunista porque pode demonstrar o que um povo, o brasileiro, pensa de si mesmo e da sua pátria.Vamos lá.
Deus chamou um brasileiro simples e humilde e lhe disse:
- Gostaria de conversar com você, meu filho.
- Muita honra para mim, meu Senhor.
-Deus olhou firmemente aos olhos daquele cidadão e lhe perguntou:
- Você tem algo para reclamar?
Meio desconfortável, a resposta veio de imediato:
- Sim, meu Deus. O Senhor colocou em diversos países inúmeras causas atribuídas à natureza e que causam danos e sustos aos seus habitantes e aqui, no Brasil, tudo é diferente e ficamos calmos e tranquilos. Só conhecemos samba e alegria. Não é? Por quê?
- Meu filho. Você faz parte desse povinho brasileiro que, por si só, arrebenta-se e produz mais estragos do que as causas naturais que motivam as destruições em outros países.
- E daí?
- Daí eu vou lhe contar e provar como é a motivação do povo brasileiro.
- Pode me dizer, Senhor.
Deus olhou novamente para aquele brasileiro e afirmou:
-Vou demonstrar dois casos e você irá escolher um deles como a sua resposta. Ou seja, dois problemas e uma única alternativa.
- Pode mandar, meu Deus.
Deus suspirou e disse:
- Ao meu lado você tem o meu filho que está constantemente a procura de seguidores para vestirem as roupas de pobre, descalços e sairem pelo mundo caminhando e pregando a paz, a concórdia e o amor entre todos, alimentados apenas pelos pedaços de pão recebidos como esmola. Jamais aceitam qualquer valor ou dinheiro por esse trabalho.
-E o outro caso?- perguntou o brasileiro.
- O outro caso é bem diferente. Você é convidado a responder com todo poder de decisão pelas contas públicas de tudo que pertence ao governo brasileiro, com um salário mensal de um milhão de reais, além das propinas bilionárias desviadas e depositadas em suas contas bancárias na Suiça, etc.
-Sim. . . -respondeu trêmulo aquele brasileiro.
Deus fixou o seu olhar nos olhos daquele homem e colocando uma de suas mãos sobre um de seus ombros perguntou:
- Somente uma resposta. Qual seria a sua opção?
Silêncio total!
Deixo a resposta para quem leu essa estória e tenho a certeza de que todos responderão a mesma coisa.
Prefiro não comentar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário