terça-feira, 18 de novembro de 2014

A POMBA ADORMECIDA

Diante de mim, que estava sentado em um banco numa praia, vejo mais de quinze pombas caminhando ou saltando pela areia cinza clara e fria, na procura de algumas migalhas ou restos de algum alimento, esquecido ou jogado por algum praiano.

Fico observando o comportamento daquelas pequenas aves e não consigo entender o porque delas balançarem tanto suas cabecinhas quando caminham ou saltitam de um lado para o outro. Uma criança me contou que o balanco das cabeças das pombas é um gesto de agradecimento antecipado por tudo que elas encontram para alimentá-las. Será?
Uma bola de futebol surge rodando entre as pequenas criaturas, talvez chutada por um menino que sonha um dia ser um Neymar. A reação foi imediata e as pombas alçaram vôo e foram para outro local. Ao fundo estava um céu alaranjado porque o sol estava se pondo e, com isso, a beleza das cores das nuvens, do céu e do mar era deslumbrante. Apenas sentia-se um pouco de tristeza com aquela cena que anunciava o fim de mais um dia. Tudo que nos indica o final de qualquer  coisa, nos traz tristeza. Né não? Pois é!
No lugar onde as pombas saltitavam na areia percebi que uma delas havia ficado imovel e com sua cabecinha enfiada numa das asas. Parecia que estava dormindo ou sonhando.
Imaginar o que sonharia uma pombinha cinzenta sobre a fria areia de uma praia com um mar manso e lindo é difícil. E como.
O vento que vinha com as  pequenas ondas das águas salgadas começava a esfriar e arrepiar a minha pele e percebi que, daquele momento em diante, eu iria sentir frio. Olhei para a pombinha que estava dormindo como uma bela adormecida e pensei como a solidão entristesse as pessoas. Até aquela criatura, provavelmente  esquecida, permanecia  imovel e silenciosa.
As penas do seu corpinho balançavam e mostravam que o vento daquela tarde prometia esfriar ainda mais, e despertando, ela iria procurar um lugar mais seguro e quente.
Nada disso aconteceu.
Concentrei-me naquela pequena figura cinzenta e esperei algum movimento qualquer que me explicasse o que estaria acontecendo com ela.  Nada!
De repente, aparece alguem caminhando pela areia próximo da dorminhoca. Ela nem deu confiança e continuou com a sua cabecinha enfiada numa de suas asas. Inacreditável, porque todas as pombas voam ao ouvir um barulho por menor que seja. Ela não. Permanecia inerte, sem se manifestar ou até mesmo levantar a sua cabecinha. 
O sol já havia embarcado para o descanso da noite a fim de voltar a brilhar no dia seguinte. A pombinha continuava quieta, muito quieta.
As luzes dos postes  se acenderam anunciando que a noite havia chegado. Olhei para a pombinha e ela permanecia sem qualquer movimento.
Levantei-me do banco onde eu estava  e caminhei em direção daquela pombinha. Quando estava muito próximo dela senti que o vento havia ficado mais forte e frio  e vi que as suas penas se arrepiaram. Parei e fiquei observando.
A pequena ave cinzenta balançou o seu corpo e caiu para o lado permanecendo inerte. Aproximei dela e fiz um barulho com a minha boca tentando assustá-la. Nenhuma reação. Cheguei mais perto e a peguei com as minhas mãos.
Foi aí que percebi que aquela pombinha estava morta há algumas horas, partindo para o infinito com o por do sol que havia se retirado dando o seu lugar para uma explêndida lua cheia, branca e maravilhosa.
Então eu entendi que uma ave partiu e uma nova vida estava sendo anunciada.



Nenhum comentário:

Postar um comentário