Atravesso o jardim central da minha cidade passando ao lado da estátua do Anjo da Concórdia que fiquei sabendo nunca ter sido um anjo mas, apenas, a imagem de um jovem italiano, bonito e desaparecido com o seu barco, no Mar Adriático, litoral norte da Itália. Os seus pais pediram ao escultor que fizesse a imagem do filho sobre um barco e colocasse duas asas como se ele fosse um anjo. E isso foi feito. Mas anjo mesmo, ele nunca foi. Jamais!
Até hoje, ninguém sabe explicar como aquela estátua saiu da Itália e veio parar em São Paulo. Mistério! A colônia italiana de Rio Claro, ao saber da existência dessa imagem, ofertou-a à Rio Claro em seu centenário lhe dando o nome de Anjo da Concórdia.
Esta é mais uma estória desse jardim maravilhoso e que os meus avós gostavam de me contar
Entretanto, a que me deixou "maluco", diz respeito à Fonte do Índio: um chafariz que tem no seu centro e bem alto a estátua de um índio. Nesse local, havia a primeira capela cristã da cidade. Dizem que o nome do "pele vermelha" era Caiowa, cacique de uma tribo de nativos da região norte do Brasil.
Há muito tempo, era comum as pessoas que visitavam Rio Claro ou aquelas que frequentavam esse jardim central jogarem moedas de "mil reis" de costas para o Caiowa, fazendo, ao mesmo tempo, um pedido e eram prontamente atendidas.
Muita gente duvidava desse tipo de milagre,outras pessoas, não! Até hoje, ainda há dúvidas sobre quem está com a verdade.
Para não prejudicar o material que serviu de construção da fonte, a Prefeitura resolveu colocar servidores tomando conta do local para que os vândalos não mergulhassem nas águas da fonte e apanharem as moedas atiradas pelos crentes de Caiowa.
Assim com o tempo, a fiscalização foi ficando mais rigorosa e as autoridades municipais pediam para que as pessoas não atirassem mais as moedas de mil reis nas águas da fonte, porque tudo não passava de invenção ou mentira.
Aos poucos a fonte do Caiowa foi ficando esquecida e as moedas desapareceram.
Os pedidos continuavam e eram bem diversos. Gente que queria casar ou reatar um namoro ou noivado desfeito; melhoria do salário; cura de doenças; aumento do faturamento de empresa; genro pedindo a morte da sogra; a sogra pedindo a morte da nora; conseguir a aprovação nas provas da escola; vitória do Corinthians, etc. Eram tantos os pedidos que o Caiowa começou a deixar de atender aos seus fieis. Estava ficando difícil e complicado para ele.
Daí em diante, e com o rigor da fiscalização dos agentes municipais, a fonte secou. E secou de tal maneira que a estátua do índio foi retirada daquele local e jogada num canto do "quadrado"- local onde eram depositados objetos considerados sem valor pela municipalidade- ou seja: o lixo!.
A fonte, por sua vez, foi totalmente reformada e algumas peças importantes foram colocadas para que a água jorrasse da sua parte central recebendo luzes coloridas com mudanças de cor automaticamente. Era muito bonita.
Longe dali,Caiowa permanecia quietinho, caindo aos pedaços e abandonado por completo, até que alguém se lembrou dele e sugeriu que, sem prejudicar a beleza das cores da água jorrada na fonte, a imagem do índio pudesse voltar ao lugar de destaque que outrora ocupara. Seria uma homenagem aos índios brasileiros.E isso foi feito.
Hoje, as águas não recebem mais as luzes coloridas mas continuam vivas, saudando o índio querido que ele foi para a sua tribo e também para os crentes. Estes voltaram a atirar as moedas na fonte para que os seus pedidos possíveis ou não,fossem atendidos.
Confesso que, na manhã de uma quinta feira de dezembro, eu estava em frente aquela fonte e atirei duas moedas para o Caiowa, fiz o meu pedido e depois fui para o meu colégio para fazer a prova de matemática. Precisava conseguir a nota 8,0 para ser aprovado. Tirei 9,0!
Ao sair da escola, fui direto ao jardim. Ao chegar em frente a fonte do índio, fiquei parado alguns minutos e agradeci ao Caiowa pela minha aprovação e permaneci olhando para o seu rosto moreno esculpido naquela estátua. De repente, percebi que um dos seus olhos piscou para mim como se estivesse me cumprimentando pela minha vitória escolar. Olhei para os lado e não havia ninguém naquele local. Então, gritei: Obrigado cacique!
Entre as estórias que o meu avo me contava, a da Fonte do Índio passou a ser a minha preferida. Por isso, quando eu acabei de contar para ele a minha experiência com o cacique, notei que um de seus olhos também piscou para mim, idêntico ao gesto do Caiowa.
Se essa minha estória fosse realmente verdadeira, é bem possível que a partir de agora, aqueles que acreditaram nela voltem a atirar as moedas ao grande Caiowa.
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