O meu celular toca. Atendo. Quem está do ouro lado da linha é o meu amigo Billy.
Para quem não o conhece, esse rapaz foi para Londres e de lá não voltou mais. Apenas ficou um pouco mais chato conversar com ele.
- É você Billy?
- Sim sou eu, mesmo. Em carne, osso e nas ondas do celular.
- Como está tudo aí,em Londres?
-Tudo bem. É por isso que não volto para Rio Claro. ( Metido não é?)
Aquela resposta me incomodou porque eu adoro essa minha cidade.
- Quais as novidades da terra do Robin Hood? - eu perguntei.
- Mas logo Robin Hood? Aqui é a terra de pessoas ilustres como a rainha e seus súditos e com a educação que nasce afinada na alma do povo inglês.
- Gostei. É que ontem, eu assisti um filme contando como apareceu o amigo dos pobres da Inglaterra, no reinado do Rei João.
- Deve ter sido um bom filme porque a lenda ainda permanecerá para sempre e Robin Hood será o seu eterno defensor dos pobres.
- E os ricos? Eles não tem um defensor?
- Muitos. Eles estão no Parlamento Britânico. Assim dizem os ingleses pobres,e só.
- Será que no Brasil nós não teremos alguém com o espírito parecido com o de Robin Hood? E aí na Inglaterra vai aparecer outro Robin Hood?
- Nem no Brasil e nem aqui porque é mais fácil você encontrar alguém mais próximo da personalidade do Rei João do que com o herói inglês. Me fale do nosso país.
- Piorou! Apareceu um cidadão que veio do sertão pernambucano para ser metalúrgico, em São Bernardo do Campo, e acabou sendo eleito presidente da República.
- É o Lula, não é? Pois ele é considerado o '"cara" em toda a Europa e nos Estados Unidos. Ele conquistou o mundo. Como ele chegou nessa posição?
- Difícil de explicar, mas agora o partido dele está enfrentando um desconforto com a Justiça.
- Pode ter a certeza de que, em nosso país, o político é mais poderoso que o juiz de direito.Ainda continua acontecendo, não é?
- Estou concordando com você, Billy.
- O nordestino é como o sertanejo, um forte! E tem muita força e coragem na alma.
- Eu sei disso. É inteligente também. Veja que, no coração do nordeste, próximo a terra do Lula, um engenheiro descobriu uma técnica de colocar água numa reserva no sub-solo, onde antes havia um rio e agora permanece com o seu leito seco.
- Mas como ele fez isso?
- Eu li na edição do Estadão onde o repórter tentou explicar mas eu fiquei sem entender patavina.
- E como você sabe que esse método funciona?
- Ué. O homem tem água no ano inteiro e seus vizinhos têm a seca.
- Verdade?
- Verdade, mesmo!
- E porque é que o governo não utiliza esse método em todo o sertão seco do nordeste?
- Porque não interessa. Vá que com esse procedimento faça o nordeste crescer de tal maneira e,em poucos anos, deixa de ser um povo sofredor e esfomeado e de manobra política do governo.
- É assim mesmo?
- Claro que é. Os coronéis não querem ser importunados e nem querem perder as suas propriedades. O governo, por sua vez, não irá substituir o vale desemprego, o vale educação, o vale saúde e outros vales que por si só não valem nada, e deixar de ter o poder sobre os pobres e famintos daquela região. São votos eleitorais.
- Quer dizer que o nosso país vai continuar o mesmo de sempre?
- Vai! Eu estou vendo isso pela frente, se bem que temos uma presidente corajosa e destemida mas de rabo preso com o "cara" de Guaranhuns. As eleições futuras irão provar isso.
- É uma pena que as eleições tenham resultados envolvendo os votos dos pobres e dependentes do governo. Assim, será difícil o povo brasileiro escolher os melhores para os cargos eletivos.
- Veja a segurança pública. Uma coisa acontece no sul, que na maioria dos seus Estados, tem alguém do PSDB governando e, outra no nordeste, onde os partidos afinados com o do "cara" governam na maioria dos Estados.
- É assim que está o nosso país?
- É. Ontem, no Globo News, uma repórter ao ser entrevistada sobre esse problema, disse que no nordeste os crimes são encomendados, portanto diferentes dos que acontecem nos Estados de São Paulo e de Santa Catarina.
- Crime encomendado? O que é isso?
- A repórter não atentou para o detalhe de que os crimes contra os policiais cometidos pelos bandidos, são encomendados pelos líderes das centrais de bandidagem, recolhidos nas prisões.
- A ordem vem direta da cadeia?
- Vem. E na sua maioria vai para os traficantes que devem algum dinheiro a essas centrais e aceitam matar policiais para pagarem o que devem.
- Quer dizer que todo esse festival de crimes está sob encomenda?
- E você duvida?
- Estou surpreso com o que você está me contando.
- Surpreso? Por quê? Aqui tudo continua na mesma, meu caro Billy.
De repente o meu celular ficou mudo. Tentei de todas as maneiras me contatar com o Billy. Negativo.
Ao chegar perto da desistência da ligação, o meu celular dá um toque. Era o Billy
- Onde você foi parar, meu caro Billy - perguntei.
- Eu estou aqui. É que eu falava com você através do meu celular e dentro do veículo que estava dirigindo e vi pela frente um guarda.
- E dai? Aqui no Brasil, o que mais vemos na direção dos veículos em movimento são mulheres e jovens dirigindo e falando em seus celulares.
- E não acontece nada?
- Nadica de nada.
- Se um guarda inglês nos pegar dirigindo e falando no celular, vamos levar uma multa pesada e talvez uma noite acompanhados com alguns beberrões presos nas cadeias.
- É assim por ai?
- Mesmo assim temos a segurança e o reconhecimento como pessoa humana quando caminhamos ou respiramos alegres e soltos pelas ruas de Londres, digo, London. Gostou? Já estou com a pronuncia britânica na ponta da língua. Repita comigo, London.
- Billy eu ainda estou em Rio Claro que é bem distante da capital da Inglaterra.
- Londres não é capital da Inglaterra.
- É capital de que país?
- Da Gran Bretanha ou melhor, do Reino Unido da Gran Bretanha. Deu pra entender?
Senti na maneira de falar o mesmo Billy de sempre. Metido, asquerosos, etc.
Quem ficou mudo agora foi o meu celular. O Billy ficou sem me ouvir e ficará assim por muito tempo, porque ele mostrou que continua a ser o Billy de sempre, o brasileiro metido a inglês. Da mesma maneira, o norte-americano considera o povo inglês: frio, calculista e metido a besta e até com a pronúncia diferenciada da mesma língua.
Tal o Rei João, da Inglaterra.
Para tanto, precisamos de muitos Robins Hood. Ou não?
O pior é que no Brasil teríamos que ter um verdadeiro herói e não aquele que chama os deputados de picaretas e explora os pobres famintos, vendidos pelos vales da vida. Foi assim qu alcançou o mais alto cargo da república muito rápido e, por isso, foi considerado o "cara" pelos dirigentes internacionais.
É foi isso que o Billy ainda não entendeu.
Eu também!
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