Nasceu pobre, e na sorte soube que também morreria pobre.
O seu nome: Carlos Eduardo, ou Cazuza.
Quando estava sendo amamentado pela sua mãe no leito da materrnidade, o seu pai ao ver emocionado tal cena, comentou: "vocês fazem parte do meu show".
Parece que essa expressão ficou marcada naquela pequena cabeça que, mesmo sem entender o que significava, ficou com o som daquelas palavras em sua mente.
Cresceu no meio de uma comunidade carente e cresceu com os seus valores.
Aos cinco anos, numa aula da escola pública que frequentava, ouviu a sua "tia"- professora - dizer que aquela classe de alunos era a parte do seu show.
Ficou confuso porque tinha a impressão de ter ouvido essa frase num quarto de hospital. Será?
Aos dez anos, ouviu alguém cantando aquela frase no rádio. Ficou atento e identificou depois como sendo um outro Cazuza quem cantava.
"Boa xará ", pensou.
Não demorou muito para fazer parte de um grupo de garotos que andava pelas ruas e assaltava as pessoas buscando dinheiro, jóias e . . .drogas.
Aprendeu a usa-las, e gostando, acabou um viciado.
Durante os seus momentos alucinógenos, afirmava com a voz rouca e embaralhada: "faz parte do meu show".
Durante os seus momentos alucinógenos, afirmava com a voz rouca e embaralhada: "faz parte do meu show".
Não ganhou a educação dos pais em casa, mas obteve a formação da sua personalidade nas ruas com a violência e a repugnância como seus principais valores morais.
Em todas as vezes que lhe era dada a oportunidade de dizer alguma coisa ou dar a sua opinião, ele terminava falando e sorrindo:" faz parte do meu show". Era a sua maneira de se identificar como um pseudo-líder de grupo marginal.
Ao ser preso pela primeira vez pela polícia, por ter assaltado uma pobre velhinha, na busca de algum valor, ele justificou, diante do delegado de policia, que o que fizera "fazia parte do seu show."
Tudo para ele era uma espécie de show onde se vestia como o seu principal interprete. E ele acreditava nisso. Ele tinha a certeza de que era o artista principal de qualquer cena do seu cotidiano
Quando estava solto, e andando sem destino pelas ruas da cidade, na busca de dinheiro, jóias e drogas, tinha o costume de cantar aquela música feita pelo seu xará. E gostava dela.
Tornou-se um adulto criminoso e perseguido pela polícia.
Em tudo o que pretendia fazer, fazia com violência, como estuprar um menina de doze anos, para vê-la assustada e chorando, com sangue nas suas vestes e, olhando-a com desprezo, disse: "desculpe-me mas isso faz parte do meu show".
Ao deixar um ancião desfalecido com a violência que havia empregado para roubar poucos centavos, olhou para a vítima e repetiu várias vezes que aquilo que havia acontecido "fazia parte do seu show". Em seguida, dava uma grande gargalhada.
Ao assassinar um casal que estava namorando dentro de um carro estacionado numa rua pouco iluminada, ele olhou para as vítimas assustadas e disparou a sua arma cantando a melodia de sempre: "faz parte do meu show".
Quando os seus pais morreram, ele ficou revoltado e tornou-se um assassino implacável. Aliás, todos o temiam.
A sua fama cresceu no meio do crime e passou a ser um bandido temível e, ao mesmo tempo, marcado por todos os que se movimentavam no meio criminal da cidade. Era possível que algum dia ele viesse a ser morto pela polícia ou por outro criminoso. Seria uma questão de oportunidade. Mesmo sabendo disso, ele costumava deitar na cama e sorrindo, cantava:"faz parte do meu show."
Enfrentou muitas vezes os esquadrões policias como a Ronda, onde os tiroteios com os bandidos acabavam com mortes para os dois lados. Era por isso que os policiais tinham ódio sobre os grupos de delinquentes como os do Cazuza,
Enfrentou muitas vezes os esquadrões policias como a Ronda, onde os tiroteios com os bandidos acabavam com mortes para os dois lados. Era por isso que os policiais tinham ódio sobre os grupos de delinquentes como os do Cazuza,
Aos vinte e cinco anos, combinou com mais três companheiros, um assalto ao caixa eletrônico de um banco, num dos bairros da cidade. Durante o dia, era uma rua tranquila e à noite, totalmente favorável para tal crime.
Tudo deu errado. A polícia recebeu a informação antes e ficou na espreita dos bandidos.
Houve um tiroteio jamais visto na redondeza.
Num determinado instante, Cazuza percebeu que seus companheiros estavam tombados, mortos e somente ele permanecia vivo, sem qualquer bala em sua arma. Elas haviam terminado.
Levantou os braços e segurando o revolver com a mão direita veio andando em direção dos policiais cantando "faz parte do meu show".
-Pare e deite-se ao chão e jogue a sua arma para longe. - foi o que ouviu de um dos policiais.
Ao tentar se ajoelhar para deitar ao solo, perdeu o equilíbrio do seu corpo e caiu, dando a impressão de que iria atirar com a sua arma.
Três tiros certeiros dos policiais perfuraram o seu corpo.
Deitado e imóvel pelos estragos dos tiros recebidos, viu que um policial aproximou-se e disparou mais uma vez entre os seus dois olhos. Cazuza partiu sem ouvir a proclamação do seu matador:
"Hoje, eu fiz parte do seu show, seu canalha. Essa bala é para você saber que num dos seus shows você matou o meu filho".
O autor é educador, escritor e músico.
e mail: aldozottarellijunior@gmail.com
Ao tentar se ajoelhar para deitar ao solo, perdeu o equilíbrio do seu corpo e caiu, dando a impressão de que iria atirar com a sua arma.
Três tiros certeiros dos policiais perfuraram o seu corpo.
Deitado e imóvel pelos estragos dos tiros recebidos, viu que um policial aproximou-se e disparou mais uma vez entre os seus dois olhos. Cazuza partiu sem ouvir a proclamação do seu matador:
"Hoje, eu fiz parte do seu show, seu canalha. Essa bala é para você saber que num dos seus shows você matou o meu filho".
O autor é educador, escritor e músico.
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